Passemos ao Senado. Aí é que a coisa ficou feia mesmo. Os que forem eleitos em 2018, quando serão renovados dois terços da Casa (54) e eleitos dois por estado, terão mandato de nove anos. Ou seja, até 2027. O terço (27) a ser eleito em 2022, um por estado, terá cinco anos. E assim, em 2027 elegeremos ao mesmo tempo os três senadores de cada estado para mandatos de cinco anos. O que se ganha também com isso? Menos oportunidade para o eleitor. A renovação alternada de hoje, um terço, dois terços, permite que o eleitor promova mudanças no Senado, a cada quatro anos, preservando entretanto a estabilidade na Casa. As conjunturas mudam. A eleição dos três ao mesmo tempo resultará em menor diversidade política e partidária. Se a eleição ocorreu, por exemplo, casada com a eleição de um candidato a presidente que seja um fenômeno eleitoral, há o risco de que ele influa muito na eleição de senadores, criando uma casa alinhada e subserviente num grau inadequado à democracia. Contra isso, a alternância tem funcionado bem. Para haver alternância, os mandatos têm que ser mais longos que os dos deputados. Afinal, aquela deve ser, mais que a Câmara, a casa do equilíbrio na federação.
Neste calendário confuso, pior ainda foi a solução da transição para os deputados e o presidente. Os que forem eleitos em 2018 ganharão mandato de quatro anos ainda, mas o presidente não poderá ser reeleito.. Vamos ter um governo chinfrim neste período, seja quem for o eleito. Ainda que o país tenha superado os problemas econômicos atuais, o sucessor de Dilma não pode ter grandes planos de governo. Será quase um presidente tampão.
E o que haverá nos municípios? Os prefeitos e vereadores a serem eleitos no ano que vem terão apenas quatro anos de mandato e não poderão se reeleger. Serão também mandatos pouco promissores em matéria de realizações. Isso para que, em 2020, haja a eleição municipal em que os prefeitos e vereadores eleitos terão cinco anos de mandato, sem reeleição.
E o que ganha o eleitor com esta barafunda? Nada. Apenas a certeza de que não foi levado em conta nesta reforma política que a Câmara está votando. E que o Senado, pelo menos no que lhe diz respeito, acabará mexendo. Aí ela voltará para a Câmara, o ano estará acabando, e o que não for votado antes de 3 outubro não valerá para as eleições do ano que vem. Ou seja, pode ficar tudo como dantes neste quartel do senhor Abrantes.