O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, Arthur César de Menezes Soares Filho (o Rei Arthur) e Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), por corrupção devido a suspeita de compra de votos para a escolha do Rio como sede olímpica em 2016. Nuzman também foi denunciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
De acordo com a denúncia, Cabral, Nuzman e Gryner solicitaram diretamente a Arthur o pagamento de US$ 2 milhões para Papa Diack, para garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o que configura corrupção passiva.
A denúncia equipara Nuzman e Gryner a funcionários públicos, uma vez que tanto o COB quanto o Comitê Organizador dos Jogos receberam e eram gestores de verbas públicas e exerciam, por delegação, uma atividade típica de Estado: o desporto. “Onde existe verba pública, existe dever de probidade e existe a responsabilidade daqueles que a gerem, podendo, portanto, ser responsabilizados quando atuarem em contrariedade ao que determina a lei”, completam.
Além da condenação pelos crimes tipificados, a denúncia pede a reparação por danos materiais no valor de R$ 6,34 milhões e de danos morais no valor de R$ 1 bilhão.
Nuzman está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio, desde 5 de outubro. Ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas por intermediar o pagamento de propina para que o Rio fosse escolhido sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A defesa nega as acusações.
O pedido de prisão, diz o MPF, foi decretado porque houve uma tentativa de ocultação de bens no último mês, após a polícia ter cumprido um mandado de busca na casa de Nuzman no mês passado. Agosto deEntre os bens ocultados há valores em espécie e 16 quilos de ouro, que estariam em um cofre na Suíça.
Os procuradores afirmam, ainda, que Nuzman utilizou dinheiro da Rio 2016 para pagar o escritório de Nélio Machado, seu advogado. Em e-mail enviado no dia 25 de setembro deste ano — após ter sido levado coercitivamente para prestar depoimento —, Nuzman afirma que a Diretoria Estatutária do Comitê Rio 2016 determinou a aprovação do contrato de prestação de serviço com o escritório de advocacia, no valor de R$ 5,5 milhões.
O advogado Nélio Machado disse que já havia atendido à Rio 2016 no ano passado e que sua atuação junto ao Comitê não tem qualquer irregularidade. De acordo com o advogado, ele foi contratado para atuar na defesa da Rio 2016 e o contrato incluía defender, se necessário, os integrantes do conselho gestor, entre eles Carlos Arthur Nuzman.
As negociações
- agosto de 2009 – Há cerca de dois meses para o anúncio final, Nuzman, Gryner e Cabral se encontraram com Lamine Diack, oportunidade em que o senegalês indicou seu filho (Papa Diack) para tratar de pagamentos por “patrocinadores”.
- agosto de 2009 – Gryner foi apresentado por Cabral a Arthur Soares, aproximando-os para acertar o pagamento aos Diack.
- setembro de 2009 – Aconteceu em Paris o episódio que ficou conhecido como “Farra dos Guardanapos”, que contou com a participação de vários integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral, inclusive Nuzman.
- 2 de outubro de 2009 – Rio foi anunciado como cidade-sede da Olimpíada de 2016.
- dezembro de 2009 – Papa Diack encaminha uma série de mensagens para Nuzman e Gryner cobrando o restante dos pagamentos devidos aos seus amigos, o que indica que houve distribuição de vantagens indevidas a outros africanos.
- dezembro de 2016 – Nuzman e Gryner concedem ao LSH Barra Hotel, da qual Arthur Soares é sócio, o perdão da multa contratual e desconto de 30% sobre o valor que o hotel deveria devolver por ter descumprido acordo firmado como o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos.
- (G1)