O acidente com Ulysses pode ter entrado para a coletânea de lendas do anedotário nacional, mas é lembrança bem real na cabeça de quem, por ofício ou coincidência, ajudou nas buscas pelo corpo nunca encontrado.
A Folha conversou com pessoas que acompanharam o resgate dos corpos das outras vítimas -além do então deputado, estavam no helicóptero a mulher dele, Mora, o casal Severo Gomes e Ana Maria Henriqueta e o piloto, Jorge Comeratto.
O acidente foi em 12 de outubro de 1992, quando caiu no mar o helicóptero em que Ulysses -um dos protagonistas da redemocratização e símbolo da Constituição de 1988- se deslocava de Angra dos Reis (RJ) para São Paulo.
“Os corpos estavam num estado de degradação muito grande, com partes decepadas, mordidos por peixes”, diz Manuel Alceu Affonso Ferreira, 74. Então secretário estadual de Justiça de São Paulo, ele foi um dos comandantes da operação.
“Tenho essa imagem até hoje na cabeça”, afirma o advogado, que, cumprindo ordem do governador Luiz Antônio Fleury (1991-1995), se mudou durante dez dias para a região onde a aeronave caiu, perto de Paraty (RJ).
As buscas, que duraram 21 dias, envolveram forças de segurança do Estado, bombeiros, Marinha e Aeronáutica.
Segundo Ferreira, todas as estruturas e tecnologias disponíveis na época foram usadas. “Lembro daquilo tudo com misto de tristeza e emoção”, relata. “Sobrevoávamos toda a costa, mas não se achava nada”.
Segundo o ex-secretário, por fim “se chegou à conclusão técnica de que a única coisa que poderia acontecer seria o cadáver de Ulysses parar em alguma praia”.