O infarto, uma condição médica historicamente associada a pessoas mais velhas, tem aparecido com frequência crescente entre adultos jovens. A constatação é da cardiologista Danielli Lino, do Hospital do Coração de Messejana. Em entrevista ao CETV, ela alertou para a mudança neste perfil epidemiológico, um movimento que, segundo ela, não é registrado apenas no Ceará, mas em todo o mundo.
A Secretaria da Saúde do estado registrou, nos últimos 15 anos, 1.532 pessoas com até 39 anos de idade como vítimas de infarto. A estatística revela uma disparidade de gênero: a grande maioria dos casos (1.146) foi de homens, contra 386 mulheres.
Por que os jovens estão infartando?
De acordo com a doutora Danielli, o mecanismo do infarto nos jovens é o mesmo dos mais velhos: uma placa de gordura que se forma nas artérias do coração rompe, forma um coágulo e impede a passagem de sangue para o músculo cardíaco. A explicação para o problema estar atingindo uma faixa etária mais precoce, no entanto, está no estilo de vida.
“Essa população masculina está mais sujeita a fatores tradicionais de risco”, explicou a cardiologista. Ela cita:
- hipertensão;
- diabetes;
- obesidade;
- tabagismo (que “voltou com tudo”, principalmente com os cigarros eletrônicos);
- sedentarismo;
- estresse;
- mau hábito de sono;
“É uma geração que negligenciou esses fatores de risco e agora está colhendo as consequências”, afirmou a médica.
Cuidados com a atividade física
A busca por um estilo de vida mais saudável por meio dos exercícios físicos também exige atenção. A médica alertou para os casos de morte súbita em academias, cuja principal causa é o infarto.
“Primeiro, antes de qualquer realização de atividade física, deve-se procurar um profissional de saúde para verificar como estão as suas condições de saúde, porque esses fatores de risco, hipertensão, diabetes, são silenciosos. Muitas vezes você tem há muito tempo e nunca procurou investigar”, orientou.
Outro ponto de alerta é a busca por resultados a curto prazo. A cardiologista chamou a atenção para o uso de anabolizantes, que aumentam o colesterol, tornam o sangue mais grosso e lesionam a parede dos vasos sanguíneos. “Realmente, hoje, a gente vê como um fator de risco, inclusive, para a ruptura dessas placas de gordura.”
Os pré-treinos com alta concentração de cafeína também foram mencionados como um perigo. “Doses elevadas de cafeína já está comprovado, por exemplo, aumento dos batimentos cardíacos, a elevação pressórica. Todas essas coisas combinadas podem levar à instabilidade dessa placa, e pode, sim, culminar um infarto”, explicou.
E as mulheres?
Apesar de os homens serem a maioria nas estatísticas, a doutora Danielli Lino ressaltou que as mulheres estão sendo cada vez mais acometidas por infarto. Até a menopausa, elas têm uma certa proteção hormonal, mas depois desse período a incidência se equipara à dos homens.
“As mulheres estão sendo acometidas por negligenciarem as questões de saúde, por também, epidemiologicamente, a gente está tendo mais, realmente, obesidade, hipertensão”, disse.
Como prevenir?
A cardiologista listou os pilares para uma prevenção segura:
- avaliação médica antes de iniciar atividades físicas, especialmente para quem tem fatores de risco;
- adoção de hábitos de vida saudável em paralelo aos exercícios;
- tratar bem doenças preexistentes, como hipertensão e diabetes;
- ter bom hábito de sono;
- controlar o estresse;
- combater a obesidade com orientação nutricional;
“Todos esses fatores controlados vão levar com que você tenha menos risco de ter um evento, por exemplo, de um infarto”, concluiu a especialista./g1
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