Para muitos, uma taça de vinho no jantar não faz mal. Mas já em pequena quantidade, a bebida começa a agir sobre o cérebro: há distorção na percepção, a capacidade de discernimento é perturbada, a concentração diminui.
O espumante é uma bebida saborosa, levanta o humor e talvez faça alguém ficar mais relaxado e eloquente o álcool contido nela atua sobre o cérebro e sobre o corpo. Primeiramente, da mucosa oral, ele chega até o intestino delgado. Ali ele é absorvido e, através do sistema sanguíneo, é levado ao fígado.
“Esta é a primeira estação importante. Esse órgão dispõe de enzimas que podem metabolizar o álcool”, explica Helmut K. Seitz, pesquisador da Universidade de Heidelberg.
O fígado transporta toxinas para fora do corpo. E o álcool é uma delas. Na primeira passagem através do fígado, o álcool não é eliminado completamente. Uma parte consegue sair novamente e passar para outros órgãos.
“Isso se aplica, por exemplo, ao pâncreas, músculos, ossos e leva às correspondentes alterações”, diz Seitz, lembrando que o álcool pode agravar ou até mesmo causar mais de 200 doenças.
O que acontece no cérebro?
O excesso de álcool no corpo afeta principalmente o cérebro: há uma distorção da percepção, a capacidade de discernimento é perturbada, a concentração diminui. Ao mesmo tempo, reduz a timidez. Talvez surja um agradável sentimento de despreocupação.
No entanto, a ingestão de grandes quantidades pode levar a estados de delírio e até à inconsciência. Depressões e agressões ficam mais fortes. A triste consequência: em todo o mundo, aumenta o abuso de álcool, como também os acidentes e a violência sob a influência da bebida. Por volta de 3,3 milhões de pessoas morrem anualmente por sua causa.
Quando o álcool circula pelo corpo, ele também atinge o cérebro. Ele precisa de cerca de seis minutos para chegar lá. “A molécula de álcool etanol é pequena. Ela se encontra no sangue, em todas as partes aquosas, ela é solúvel em água. O corpo humano é composto de 70% a 80% de água, o álcool se distribui por aí e passa para o cérebro”, diz o pesquisador.
O álcool afeta os chamados neurotransmissores. Trata-se de substâncias que são transmitidas para as terminações nervosas no sistema nervoso central. Sob a influência de bebidas alcoólica, há falha ou alteração na transmissão.
Assim, podem ocorrer danos agudos. Se a situação é crônica, ou seja, por meio do consumo regular ou até mesmo ao longo de décadas, as respectivas lesões são ainda maiores:
“Acontecem distúrbios em vitaminas e microminerais, que desempenham um papel importante no sistema nervoso central. No nosso cérebro, por exemplo, precisamos urgentemente de vitamina B1. A falta dela pode levar à Síndrome de Wernicke-Korsakoff”, adverte Seitz.
A Síndrome de Wernicke-Korsakoff é uma doença do sistema nervoso central. Através do alcoolismo, há uma falta de vitaminas, e isso resulta, por sua vez, em doenças. O abuso do álcool pode levar à demência.
O que acontece no corpo?
Na boca e na faringe, o álcool afeta as membranas mucosas, por exemplo, no esôfago, que não pode mais proteger o corpo de substâncias tóxicas. Responsável por reduzir as toxinas, o fígado, no entanto, está ocupado inicialmente em eliminar o álcool. Outras substâncias nocivas não são sequer consideradas.
Segundo Seitz, isso pode ter consequências significativas, como pancreatite aguda. “Pense em tipos de câncer, tumores da cavidade oral, faringe, laringe, esôfago, mas também câncer de fígado ou de mama. Muitas vezes se esquece que o álcool é um fator de risco para o câncer de mama em mulheres e também para o câncer de cólon.”
Em primeiro lugar, no entanto, está o perigo da cirrose hepática. Quando o álcool é eliminado pelo fígado, ao mesmo tempo, ali surgem produtos tóxicos que danificam as células do fígado. Anualmente, cerca de 30 mil pessoas morrem somente no Brasil vítimas de cirrose.
“O álcool é metabolizado no fígado, então se acha que o veneno tenha ido embora. Mas existe um produto de degradação, quase um produto intermediário. Trata-se do acetaldeído, uma substância que reage na menor ocasião, de grande poder de destruição e que pode provocar até mesmo danos hereditários.” Seitz aponta que isso é um temido produto da metabolização do álcool e uma substância cancerígena.
“A dose faz o veneno”
Os adultos brasileiros bebem, em média, 8,7 litros de álcool puro por ano. Na Alemanha, são consumidos 11,8 litros per capita isso corresponde a 500 garrafas de cerveja por pessoa. No Reino Unido e na Eslovênia, essa cifra é ligeiramente menor: 11,6 litros. Na Irlanda e em Luxemburgo, por sua vez, bebe-se um pouco mais que os alemães 11,9 litros em média.
Esse é o resultado de um estudo da Organização Mundial de Saúde. Na pesquisa, Belarus assume um questionável primeiro lugar. Ali, cada um dos bielorrussos bebe em média 17,5 litros de álcool puro a cada ano. Os últimos lugares do ranking são ocupados por países como Paquistão, Kuwait, Líbia e Mauritânia, com uma média anual de 0,1 litro per capita. Em alguns países asiáticos, prevalece uma situação bem diferente.
Em cerca de 40% dos japoneses, coreanos e chineses falta uma enzima que decompõe o acetaldeído. Este é um pré-requisito importante para a eliminação do álcool no corpo. “O álcool é convertido em acetaldeído e este, por sua vez, em ácido acético. Quando o acetaldeído não pode ser convertido em ácido acético, ele se acumula”, explica Seitz.
Devido a essa pré-disposição genética, muitos asiáticos não conseguem metabolizar o álcool. “Isso pode levar a dores de cabeça, náuseas, vômitos, tremores, vermelhidão no rosto”, explica o especialista de Heidelberg. Ele disse ter alguns amigos do Japão que são afetados pela falta da enzima. “Mesmo assim, eles bebem álcool e, em seguida, têm de vomitar.” 10% deles não podem beber nenhum álcool, porque eles realmente se sentem mal.
O pesquisador afirma, no entanto, que o álcool tem um lado bom, mesmo que seja o único: “Ele tem um efeito favorável sobre a aterosclerose, sobre o endurecimento das artérias. Se você está mais velho e tem risco de sofrer ataque cardíaco, ou até mesmo já teve um infarto, provavelmente um copo de vinho à noite não é ruim, mas não mais que isso”.
Algo já conhecido por Paracelso. Já no século 16, o médico e teólogo pregava: “Todas as substâncias são veneno, não há nada sem veneno, só a dose faz que uma coisa se torne veneno.” Ou seja, como em tantos outros casos: tudo depende da quantidade.