O perfil do homem apontado como o autor dos disparos que mataram a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, põe em xeque a versão divulgada pelas autoridades locais. É o que aponta uma investigação sobre Pierson Gutiérrez Solís feita pelo jornal digital nicaraguense Confidencial. Raynéia foi assassinada na última segunda (23), na capital da Nicarágua, Manágua.
Segundo as apurações, Solís é um militante da Frente Sandinista de Libertação Nacional, a qual pertence o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega; e serviu ao exército, tendo sido desligado em 2009. Atualmente, trabalha como segurança na Albanisa, uma parceria do governo com a petroleira estatal venezuelana PDVSA. A sede da empresa fica a cerca de 500 metros do local onde Raynéia teria sido alvejada.
Outro ponto que vai contra a versão dada pelas autoridades nicaraguenses está no tipo de arma que a polícia local diz ter encontrado com o suposto autor dos disparos, uma carabina M4. De acordo com a lei local, essa é uma arma de uso restrito da polícia e não pode ser usada por vigias privados. Há relatos de que esse é o tipo de arma usado por grupos paramilitares.
Apesar do namorado de Raynéia, Harnet Lara Moraga, ainda não ter dado declarações públicas sobre o crime, o jornal nicaraguense ouviu os médicos que atenderam o homem. Segundo eles, Lara Moraga afirma ter visto três homens encapuzados dispararem na direção do carro da brasileira. O namorado dela estava em outro carro próximo ao de Raynéia no momento do crime.
O local em que a estudante brasileira foi assassinada é ocupada por paramilitares desde o início do mês. Após o crime, eles deixaram de ser vistos no local. A Nicarágua vive uma onda de protestos desde abril, em que manifestantes pedem a renúncia do presidente Daniel Ortega, que tem respondido com violência aos atos.
Nesta sexta (27), o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, criticou o governo da Nicarágua pela demora em apresentar explicações detalhadas sobre a morte da estudante brasileira.
“As informações que foram prestadas até agora são extremamente insuficientes. O governo Nicarágua diz que foi um guarda de segurança particular. Mas quem foi? Qual é o calibre da arma? Em que circunstância isso ocorreu? Não houve até agora um esclarecimento e nós vamos insistir porque isso nos parece absolutamente inaceitável”, declarou o ministro.
Nunes afirmou que o governo brasileiro continuará insistindo em obter informações e que uma alternativa em caso de resposta negativa será estudará medidas junto a organizações multilaterais, com Organização dos Estados Americanos (OEA). (Com informações da FolhaPress)