Dada a proximidade do recesso do Judiciário, que encerra suas sessões de julgamento nesta semana – e o tamanho e complexidade da delação da Odebrecht – a colaboração só deverá ser homologada pelo ministro do STF Teori Zavascki em março.
O calendário, ao mesmo tempo que assusta o governo devido ao temos que novos anexos cheguem ao conhecimento público, também permitiu que uma estratégia para sobreviver até o começo do ano que vem fosse traçada pelo Palácio do Planalto.
De acordo com integrantes do governo, os itens para a sobrevivência são os seguintes:
1. Se não é possível divulgar toda a delação da Odebrecht de uma vez, é preciso ao menos estancar os vazamentos.
Foi justamente dentro dessa lógica que o ministro da Justiça, Alexandre de Morais, encontrou-se nesta segunda com o chefe do Ministério Público, Rodrigo Janot.
Dado o grande número de e advogados envolvidos no processo de delação, os dois discutiram como impedir novos vazamentos.
Além disso, para marcar posição e se colocar como o principal interessado que a delação seja concluída e tornada pública, Michel Temer autorizou a Advocacia-Geral da União a enviar para o Ministério Público Federal um pedido formal solicitando que a homologação e demais procedimentos da colaboração sejam acelerados.
Apesar do pedido do governo, procuradores e advogados da Odebrecht já estão trabalhando em seu máximo, por isso, o pedido não surtirá efeitos práticos além da marcação de posição política.
2. Foco na economia e cobrança a Meirelles e Dyogo Oliveira
O governo quer ter toda a semana uma notícia econômica para tentar contrapor o noticiário da crise política.
Além de aprovar a PEC do Teto do gastos e fazer discussões sobre a reforma da previdência, o governo cobrou medidas de Henrique Meirelles (Fazenda) e de Dyogo Oliveira (Planejamento) naquele esquema ‘para ontem’.
Quer apresentar periodicamente novidades que afetem não só a macro, mas também a micro-economia (aquela que mexe com o bolso de quem não é rico).
3. Discurso de politização na delação de Cláudio Melo Filho.
Como vem fazendo desde o fim de semana, o governo tenta politizar a delação do ex-vice-presidente de relações institucionais da Obdebrecht Cláudio Melo Filho. A delação vem sendo noticiada pelo BuzzFeed desde o mês passado (veja aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e os apelidos aqui) e na última sexta foi replicada pelos principais veículos de comunicação do país.
A estratégia do governo é dizer que o PT não foi delatado, mas somente a cúpula do PMDB no governo. Dirá que a delação foi “direcionada” e tenta implodir o atual sistema político, o que abriria caminho para aventureiros que podem prejudicar ainda mais a economia.
4. Manter a base unida no Congresso.
O governo terá que fazer mais concessões a aliados e deve adiar a nomeação do substituto de Geddel Viera Lima na articulação política.
Cotado para assumir a vaga, o deputado Antonio Imbassahy se transformou no maior alvo do chamado ‘centrão’, grupo que representa cerca de 200 deputados e disputa a presidência da Câmara.
Devido ao clima político, uma nomeação antes do recesso de fim de ano atrapalharia a reforma da previdência.
5. Ir para cima de procuradores do Ministério Público Federal com o projeto de abuso de autoridade.
Parte dos deputados e senadores está inconformada com o fato de o Congresso não “dar o troco” em procuradores que os investigam.
Devido a isso, discussões sobre o projeto de abuso de autoridade devem voltar à pauta do legislativo. Mesmo que ele não seja aprovado, os parlamentares deixam no ar a intenção de retaliar procuradores a qualquer momento e esperam conseguir que o Ministério Público fique menos agressivo em suas manifestações contra políticos.
6. Resistir e evitar a derrubada de ministros
O governo tentará se blindar de acusações contra seus ministros dizendo que até o momento só existem pré-delações e que as mesmas ainda precisam ser comprovadas na Justiça (algo que deve demorar muito).
Com esse discurso, tentará evitar uma nova derrubada, como a Geddel Viera Lima, e tentará fazer com que todos cheguem juntos a março.
O Planalto acredita que, como muitos são citados, há uma diluição, o que facilita a manutenção dos nomes fortes do governo.
7. Chegar ao recesso, apagar a luz e só voltar no ano que vem
Aguentar a última semana de funcionamento do STF e do Congresso em Brasília (no caso, essa semana), apagar a luz no parlamento e ter um alívio sem que deputados e senadores da oposição passem os dias criticando o Palácio do Planalto nas sessões e para os jornais que acompanham o Legislativo.
(Buzz Feed)