Bolsonaro sem marcação. Por Vera Magalhães

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31 05 2018 SAO PAULO SP MARCHA PARA JESUS Marcha para Jesus 2018, que teve inicio na Luz. Na imagem, Jair Bolsonaro FOTO GABRIELA BILO / ESTADAO

Não entendo patavinas de futebol americano, mas uma das imagens mais recorrentes do jogo é aquela em que jogadores dos dois times ficam se pegando no meio do campo e um escapa e corre até fazer o touchdown. A campanha presidencial brasileira está nesse estágio: um monte de candidato próximo ao traço nas pesquisas se engalfinhando no centro enquanto Jair Bolsonaro corre várias jardas com a bola, sem marcação.

O deputado do PSL acaba de cruzar a barreira dos 20% com certa margem, de acordo com levantamento do instituto DataPoder360. O mais impressionante é que a retirada de nada menos que nove postulantes num dos cenários testados não altera em nada o quadro: Bolsonaro segue impávido, e aquele que espera se beneficiar da tal união no centro, Geraldo Alckmin (PSDB), empacado em 6% ou 7%.

Havia uma suspeita (desejo?) de que o ex-capitão tivesse alcançado seu teto num patamar pouco inferior, na casa de 17%, mas isso ainda não se mostrou verdadeiro.

Alheios aos números e à resiliência bolsonariana – que tem eleitores convictos, militantes e cada vez menos “envergonhados” da escolha –, nomes como Alckmin e mesmo aqueles com índices ainda mais raquíticos, como Henrique Meirelles (MDB), insistem de forma um tanto arrogante na tese (desejo, de novo?) de que ele vai minguar quando a campanha começar de fato e não tiver tempo de TV ou estrutura partidária.

Com base nessa “certeza”, adiam entendimentos políticos para reduzir o bolo no meio de campo, uma pulverização que não atende a um recorte da sociedade – basta para constatar isso o fato de que poucos desses nove candidatos têm mais que 1% de intenção de votos –, mas a tentativas dos partidos de se cacifar ou a capricho pessoal dos postulantes.

Parece uma aposta fundada em velhos paradigmas, que têm sido desafiados dia a dia não só no caso brasileiro, mas no mundo. Ou os adversários se dão conta de que precisarão confrontar Bolsonaro – suas ideias para o Brasil, sua noção de democracia, sua trajetória parlamentar, seus aliados, sua base partidária, sua plataforma para a economia – ou a cristalização de seus votos se tornará maior. Jogar parado não parece ser uma boa ideia numa eleição que será disputada tão no corpo a corpo quanto uma partida de futebol americano.

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