Uma nova vacina experimental contra os cânceres de intestino e pâncreas apresentou resultados promissores em pacientes que já enfrentaram a doença. O uso da imunoterapia injetável dobrou a expectativa de vida de pessoas com tumores agressivos e quintuplicou em alguns casos o tempo que os pacientes ficaram livres da neoplasia.
A terapia, chamada ELI-002 2P, foi desenvolvida para estimular o sistema imunológico contra mutações no gene KRAS, um causador comum e agressivo de tumores de pâncreas e colorretal (intestino grosso).
Sinais de alerta do câncer de intestino
- Presença de sangue na evacuação, seja de vermelho vivo ou escuro, misturado às fezes, com ou sem muco.
- Sintomas irritativos, como alteração do hábito intestinal e que provoca diarreia crônica e necessidade urgente de evacuar, com pouco volume fecal.
- Sintomas obstrutivos, como afilamento das fezes, sensação de esvaziamento incompleto, constipação persistente de início recente, cólicas abdominais frequentes associadas a inchaço abdominal.
- Sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso e anemia crônica.
Os dados, publicados na revista Nature Medicine em 11 de agosto, mostraram que pacientes tratados tiveram sobrevida global mediana de 28,94 meses, quase o dobro dos pacientes em geral, que possuem média de 15,9 meses de vida.
Os resultados foram ainda mais consistentes na sobrevida livre de recidivas, ou seja, do tempo vivido sem câncer, que registrou média de 16,33 meses. Sem o tratamento, pacientes com a mutação registram média de três meses sem a doença.
Segundo os pesquisadores, os maiores benefícios foram observados em pessoas que desenvolveram respostas mais intensas de células T específicas contra as mutações do KRAS. Parte dos pacientes não chegou a ter recorrências da doença durante todo o acompanhamento do estudo, que durou 20 meses.
Vacina gera respostas imunológicas persistentes
O ensaio clínico de fase 1 (a primeira de 3 mínimas necessárias para se aprovar um tratamento médico) foi chamado de Amplify-201. Ele acompanhou 25 pacientes submetidos a cirurgia para remoção de tumores pancreáticos ou colorretais. Todos apresentavam sinais de doença residual mínima ou DNA tumoral no sangue.
Cada voluntário recebeu injeções da vacina, que usa uma tecnologia de imunoterapia, ou seja, transporta antígenos diretamente aos linfonodos para ensinar o corpo a indentificar e combater melhor células de câncer. O objetivo da técnica era ativar de forma mais eficaz células de defesa contra o câncer.
Entre os participantes, 84% desenvolveram células T específicas para combater os tumores da mutação KRAS. Em quase um quarto dos casos, os biomarcadores tumorais foram completamente eliminados, o que sugere controle da doença.
Essa mutação faz com que a proteína KRAS, que normalmente ajuda a regular o crescimento celular, fique sempre ativada, levando ao crescimento celular descontrolado e aumentando muito o risco de formação de vários tumores. As mutações no KRAS estão presentes em cerca de 90% dos cânceres pancreáticos e 50% dos colorretais.
Superando terapias contra o câncer anteriores
O médico Zev Wainberg, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, e um dos líderes da pesquisa afirmou que a investigação mostra resultados muito promissores e destacou que a vacina demonstrou segurança e eficácia em estimular defesas de longa duração.
“Este é um avanço empolgante para pacientes com cânceres induzidos por KRAS, particularmente câncer de pâncreas, onde a recorrência após o tratamento padrão é quase certa e as terapias atuais são limitadas. Observamos que os pacientes que desenvolveram fortes respostas imunológicas à vacina permaneceram livres da doença e sobreviveram por muito mais tempo do que o esperado”, disse Wainberg.
O estudo também revelou que 67% dos pacientes desenvolveram respostas contra outras mutações tumorais além das previstas no desenho inicial da vacina, ampliando o potencial de combate.
Vacina de imunoterapia pronta para uso
Ao contrário de vacinas personalizadas, que exigem tempo e custos elevados, o ELI-002 2P foi concebido como um produto pronto para uso. Ele pode ser aplicado em diferentes pacientes com tumores que compartilham mutações no KRAS sem precisar de adaptações a organismos específicos.
Essa característica pode acelerar o acesso ao tratamento e facilitar a incorporação da vacina em protocolos clínicos de larga escala. O direcionamento do gene KRAS tem sido considerado um dos maiores desafios da oncologia moderna. Por isso, os resultados foram vistos como um marco na busca de terapias mais eficazes.
A equipe de cientistas já concluiu a inscrição em um estudo maior de fase 2 para avaliar uma versão aprimorada da vacina, chamada ELI-002 7P. A nova formulação tem como alvo um conjunto mais amplo de mutações.
Se os resultados se confirmarem, a vacina poderá representar uma mudança significativa no tratamento de tumores sólidos ligados ao KRAS, oferecendo mais tempo de vida a pacientes que hoje enfrentam prognósticos limitados./Metrópoles
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