Ulysses Guimarães e Tancredo Neves costumavam dizer que a política é a arte de construir consensos a partir das divergências. Dessa prática eles fizeram a sua profissão de fé. Na política, enfrentaram a ditadura, cada um a seu modo, sempre na tentativa de construir o consenso. Tancredo aceitou as regras do regime para acabar com ele. Uniu-se a dissidentes e venceu a eleição realizada no último Colégio Eleitoral dos militares. Não assumiu a Presidência porque adoeceu e morreu. Mas deixou em seu lugar o vice José Sarney, que seguiu sua orientação e convocou a Assembleia Constituinte de 1987/88, responsável pela Constituição atual, a mesma Constituição que deu a Ulysses a condição política de dizer que tinha “ódio e nojo à ditadura”.
Se estivessem vivos, certamente Ulysses e Tancredo estariam estarrecidos com o que está acontecendo com o PSDB. Como é que um partido que tem todas as condições de construir o consenso em torno de um candidato de centro, com possibilidade de sair vitorioso na disputa pela sucessão de Michel Temer, pode arrumar uma crise interna grave como a atual, que pode até levar ao primeiro grande racha da legenda?
A impressão que se tem é de que o PSDB é formado por amadores da política, mais preocupados com um pequeno detalhe aqui, outro ali, com o que o eleitor do PT pensa dele hoje, do que com o que o eleitor dele pensa sobre o futuro do País.