Muitíssimo ainda há por fazer para se criar uma estrutura eficiente de convivência com a seca
Neste reinício de atividades pós-Ano Novo, renovam-se as expectativas em relação à solução dos problemas deixados pelo ano findo. Um deles diz respeito ao desafio de enfrentar o quinto ano consecutivo de seca.
Os elementos naturais que concorrem para o fenômeno da estiagem, fundamentalmente, continuam os mesmos de séculos atrás. Só que mais agravados pela ação equivocada do homem sobre a natureza. Mesmo assim, é possível conviver com essa situação, seja pela aplicação da tecnologia, seja pelo reforço dos laços de coesão da estrutura familiar produtiva, evitando ao máximo o êxodo rural.
Uma série de reportagens apresentadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, tem feito a comparação entre o atual quadro e o verificado exatamente há cem anos, na mesma área descrita pelo romance O Quinze, da escritora cearense Rachel de Queiroz. A reportagem tenta seguir os passos do personagem fictício, Chico Bento, que fugia da seca de 1915.
A paisagem natural é praticamente a mesma, contudo há mudanças sociais importantes, produzidas desde então – sobretudo, nas últimas duas décadas – que permitem aquilatar os avanços marcantes. Por exemplo: embora muitos aspectos da aflição continuem, não há mais o espetáculo dos flagelados famintos, invadindo e saqueando as cidades em busca de alimentos. Hoje, um sistema de segurança alimentar, através de programas de transferência de renda (sobretudo o Bolsa Família), a aposentadoria rural e os programas de crédito agrícola mudaram perceptivelmente aquele quadro desastroso, mitigando-o.
A própria água potável tem sido encontrada em várias moradias rurais, nos rincões mais entranhados, graças à disseminação de cisternas de placas construídas através de programa específico do governo federal. O mais esperado de todos os projetos é a conclusão da transposição das águas do São Francisco, já em fase final.
Contudo, muitíssimo ainda há por fazer para se criar uma estrutura eficiente de convivência com a seca, através de técnicas apropriadas de cultivo da terra, de proteção ambiental, de adequação de espécies animais e botânicas ao semiárido e de uma rede de sustentação creditícia mais acessível aos agricultores familiares, para financiar e escoar sua produção. Mãos à obra, pois, já que não há tempo a perder.