A economia brasileira estabilizou-se, após um momento de quase pânico, ao longo do primeiro semestre de 2016, e depois chegou a experimentar uma fase de relativo otimismo, com valorização da Bolsa e do câmbio e queda dos juros. De forma muito resumida, a história é que investidores e participantes dos mercados apostaram no sucesso da fórmula de enfrentar o dramático problema fiscal de forma gradualista, inicialmente com o teto dos gastos, depois com a reforma da Previdência e outras medidas.
Como é sabido, o escândalo da conversa do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista torpedeou a reforma da Previdência. Hoje o máximo que se espera, no cenário mais otimista, é que um ponto ou outro da reforma possa ser aprovado ainda no governo Temer. O mais provável, porém, é que a tarefa fique para o novo presidente a ser empossado em 2019. Espera-se também dele (ou dela) a continuidade da política econômica de ajuste ortodoxo gradual de Temer.
O grande problema, porém, é que está cada vez menos claro quem, dentre a grande penca de candidatos que vai surgindo, representa essa continuidade com algum grau de competitividade na eleição de 2018.
Em termos eleitorais práticos, a bola da candidatura de João Doria murchou e, para todos os efeitos, o primeiro lugar da fila tucana voltou para Geraldo Alckmin. Recentemente, na Casa das Garças, templo do pensamento econômico tucano no Rio, Alckmin soou todas as notas certas para agradar os renomados economistas ortodoxos e liberais que foram ouvi-lo.
O problema é que o governador de São Paulo é um pré-candidato com intenções de voto reduzidas, num partido em convulsão, e ainda ostenta um perfil de político tradicional, quando analistas apostam em alguém supostamente “fora da política” e contra o establishment. Não parece muito animador.
No afã de barrar a possível volta ao Planalto de Lula ou de algum candidato por ele consagrado, figuras desse mesmo establishment correm atrás dos tais candidatos de fora da política, como o apresentador Luciano Huck. Além disso, pipocam outros nomes, como o de Joaquim Barbosa, ex-membro do STF. Para não falar, de presidenciáveis veteranos, como Ciro Gomes e Marina Silva, e do estreante Jair Bolsonaro.
Dessa salada confusa de nomes emerge um quadro em que é alto o risco de que candidatos que poderiam, em menor ou maior grau, dar continuidade à atual política econômica canibalizem-se entre si, fazendo com que Lula e Bolsonaro, os atuais líderes nas pesquisas, consigam ir para o segundo turno.
A experiência da última eleição para a prefeitura do Rio é ilustrativa. Havia três candidaturas que representavam o centro mais tradicional, cujos votos somados garantiriam a esse campo chegar na frente no 1.º turno. A dispersão desses votos, contudo, levou ao 2.º turno o populista religioso Marcelo Crivella e o radical da esquerda “descolada”, Marcelo Freixo, com vitória do primeiro.
Não há até agora, portanto, clareza sobre quem defenderá, competitivamente, a política econômica racional em 2018. O perigo é que, na briga de foice em quarto escuro que promete ser a eleição do ano que vem, essa bandeira acabe esquecida e abandonada em algum canto.
Está menos claro quem defenderá com chances em 2018 atual política econômica.