Profetas querem evento reconhecido como patrimônio

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Quixadá Os idealizadores e realizadores do Encontro dos Profetas da Chuva, o engenheiro Helder Cortez e o comerciante João Soares, pretendem buscar o reconhecimento do evento, realizado durante quase duas décadas em Quixadá, no Sertão Central do Ceará, como patrimônio cultural nacional. No próximo ano, o Encontro chegará à sua 20ª edição, confirmando a sua consolidação, mas é preciso assegurar a continuidade dessa atividade, o seu modelo e a confraternização de seus personagens, justificam.

O evento, promovido pelo Instituto de Viola e Poesia do Sertão Central, tem início na noite desta sexta-feira (9), na Fundação Cultural Rachel de Queiroz, com o XIII Encanta Quixadá, festival de violeiros e trovadores. Amanhã, os profetas da chuva se reúnem no parque de exposições da Acocece, na Estrada do Cedro, onde apresentam suas previsões. Estarão acompanhados de ramas de árvores nativas, colmeias de inchuis e ninhos de joão-de-barro, alguns de seus instrumentos de trabalho.

Além da preocupação com a preservação desse modelo cultural ímpar, os idealizadores não escondem a apreensão com as despesas necessárias à realização do Encontro. Ao longo dos anos o movimento cresceu e conquistou notoriedade pública, atraindo o interesse de jornais e emissoras de televisão de todo o País e até estrangeiros. Mas, na mesma proporção, os gastos aumentaram, e, por esse motivo, é preciso assegurar recursos para as realizações seguintes.

Dificuldades

“Neste ano estamos conseguindo reunir os profetas da chuva graças ao auxílio da Prefeitura de Quixadá. Mesmo assim, a administração municipal está fornecendo apenas o café da manhã e a estrutura para a realização do nosso encontro. Nos bastidores, temos outras despesas, incluindo a locomoção e até a hospedagem de alguns dos participantes, vindos de outras cidades e Estados. Além de assegurarmos a tradição da sabedoria popular herdada há gerações, estamos projetando Quixadá e o Ceará para o mundo”, ressalta Helder Cortez.

“Essa mesma dificuldade a gente enfrenta para garantir a realização do Encanta Quixadá, outra reunião cultural, de violeiros. Sem patrocínio das empresas e sem o auxílio dos órgãos públicos, estamos mantendo esta outra tradição regional a duras penas”, diz João Soares. “Somente quem conhece o verdadeiro valor da nossa cultura é capaz de entender o tamanho da nossa necessidade. Precisamos de patrocinadores o mais rápido possível. Apenas dessa forma os símbolos das nossas raízes poderão continuar ecoando sertão afora”, completa.

Incentivo

Segundo a produtora cultural e professora de Artes Iris Freitas, até maio de 2012, o Brasil e outros 121 países já haviam ratificado a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). De acordo com o documento, o Brasil tem a obrigação de criar políticas e leis que protejam e promovam todas as expressões culturais, entre elas as populares e tradicionais.

“Isso significa garantir os direitos daqueles que detêm os conhecimentos sociais e materiais para a transmissão desses saberes e fazeres. Enquanto produtora cultural, conselheira de Política Pública Cultural e presidente do Fórum de Cultura e Turismo do Sertão Central, não medirei esforços para que o evento Encontro dos Profetas da Chuva seja reconhecido nacionalmente”, destaca a produtora.

Quanto ao reconhecimento como patrimônio cultural e imaterial, de acordo com Iris Freitas o primeiro passo deverá ser dado em nível municipal, por meio da aprovação de projeto de lei proposto à Câmara de Vereadores. Esse encaminhamento pode ser feito pelo Conselho de Política Pública Cultural de Quixadá.

Políticas públicas

Em seguida, é recorrer à Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC). O órgão tem, dentre as suas atribuições, planejar, coordenar, monitorar e avaliar políticas, programas e projetos para a promoção da cidadania e da diversidade cultural brasileira.

Também compete à SCDC promover e fomentar ações que ampliem a capacidade de reconhecimento, proteção, valorização e difusão do patrimônio, da memória, das identidades, e das expressões, práticas e manifestações artísticas e culturais. A Secretaria é esfera Nacional do Ministério da Cultura.

Outra opção é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável para desenvolver políticas de preservação do patrimônio nas cidades, completa.

Mais informações:
XIX Encontro dos Profetas da Chuva
De 9 a 11 de janeiro
Parque de Exposições da Acocece
Estrada do Cedro – Quixadá

Alex Pimentel
Colaborador

Fonte: Diário do Nordeste

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