A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em segunda instância na Operação Lava Jato, integrou-se à pauta das manifestações de sindicalistas neste feriado de 1º de maio, Dia do Trabalho, deslocou o eixo geográfico dos tradicionais atos da data e conseguiu unificar, em um mesmo palanque, petistas ferrenhos e artífices do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
As lideranças das maiores centrais sindicais do país costumam escolher os atos de 1º de maio em São Paulo para darem o ar da graça e falarem ao público, atraído por shows de artistas da moda e sorteios variados. Com Lula atrás das grades, entretanto, a principal mobilização em 2018 terá como palco Curitiba, onde o ex-presidente está detido desde 7 de abril.
Tendo como mote “Em Defesa dos Direitos e por Lula Livre”, o ato na capital paranaense ainda vai incorporar aos protestos contra a reforma trabalhista aprovada pelo governo Michel Temer (MDB) o discurso petista de que o ex-presidente é perseguido pela Justiça e um “preso político”. Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) a 12 anos e 1 mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá e ainda responde a outros seis processos na Justiça Federal.
O ato em Curitiba está marcado para as 14h desta terça-feira (1) na Praça Santos Andrade, no Centro da cidade, a cerca de 9 quilômetros da sede da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente passou os últimos 24 dias. Além dos discursos de aliados de Lula, também estão previstas apresentações culturais e shows de artistas como as cantoras Beth Carvalho, Ana Cañas e Maria Gadu e o rapper Renegado.
Segundo as próprias centrais e o PT, a manifestação em Curitiba marcará a primeira vez desde a redemocratização em que as maiores entidades sindicais promovem um ato unificado. Estarão no palanque líderes de Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), União Geral dos Trabalhadores (UGT), entre outras, além das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e de movimentos sociais aliados ao PT, como MST, MTST e UNE.
Um dos apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff no Congresso, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), presidente da Força Sindical, diz que “é claro que o ato de Curitiba vai se transformar em um ato pró-Lula” e explica por que apoia manifestações em solidariedade ao petista.
“O que nos uniu foi a discordância em relação à prisão em segunda instância e também por eu defender o direito de Lula de ser candidato, mesmo que eu não o apoie”, justifica Paulinho da Força, que, no entanto, não vai à capital paranaense – ele será representado pelo secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, e o pré-candidato à Presidência pelo Solidariedade, Aldo Rebelo.
O feriado do Dia do Trabalho também tem manifestações previstas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e ao menos outras treze capitais.
Na capital paulista, a Força Sindical marcou seu tradicional show para as 11h na Praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte, em cujo palco haverá o sorteio quinze carros Hyundai HB20, além de shows de Maiara e Maraísa, Simone e Simaria, Nego do Borel, Michel Teló e Leonardo, entre outros.
Ainda em São Paulo, CUT, CTB, Intersindical e as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular farão ato Praça da República, no Centro, a partir do meio-dia. Os cantores Chico César e Leci Brandão estão entre as atrações.
Sindicalistas barrados por juíza
Além de organizarem o ato em apoio a Lula em Curitiba, seis líderes de centrais sindicais pretendiam visitar o petista na cadeia nesta quarta-feira (2). O pedido, contudo, foi negado nesta segunda-feira (30) pela juíza federal Carolina de Moura Lebbos, responsável pela execução penal de Lula. Entre as lideranças barradas estão os presidentes da CUT e da CTB, Vagner Freitas e Adilson Gonçalves de Araújo, e João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.
A magistrada entendeu que os pedidos são “incabíveis” e reforçou o entendimento que adotou ao negar, na semana passada, visitas de amigos de Lula, como a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, a ex-presidente Dilma Rousseff, o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) e o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Perez Esquivel.
Na decisão, tomada na semana passada, Carolina Lebbos entendeu que “o alargamento das possibilidades de visitas a um detento, ante as necessidades logísticas demandadas, poderia prejudicar as medidas necessárias à garantia do direito de visitação dos demais”./ Veja