Polícia indicia Gusttavo Lima por suspeita de lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso das bets

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O cantor Gusttavo Lima foi indiciado sob suspeita de organização criminosa e lavagem de dinheiro pela Polícia Civil de Pernambuco no âmbito da Operação Integration. A investigação mira uma suposta organização criminosa envolvida em jogos ilegais e lavagem de dinheiro e teria movimentado quase R$ 3 bilhões.

A informação foi divulgada inicialmente pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (29), e confirmada pela Folha nesta segunda (30) com fontes na Polícia Civil.

O indiciamento aconteceu no dia 15 de setembro. No dia 20, após a conclusão do inquérito, o Ministério Público de Pernambuco devolveu o inquérito à Polícia Civil alegando que seriam necessárias algumas diligências complementares para embasar a acusação formal.

Depois, caberá ao MP-PE decidir se apresenta denúncia contra Gusttavo Lima e outros investigados.

Em nota divulgada no dia 24, a defesa de Gusttavo Lima disse que “a relação do cantor com as empresas investigadas era estritamente de uso de imagem e decorrente da venda de uma aeronave”.

“Tudo feito legalmente, mediante transações bancárias, declarações aos órgãos competentes e registro na Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]”, acrescentou. “Tais contratos possuíam diversas cláusulas de compliance e foram firmados muito antes de que fosse possível se saber da existência de qualquer investigação em curso.”

Gusttavo Lima prestou esclarecimentos à Polícia Civil de Pernambuco por meio de carta precatória no dia 11 de setembro. No depoimento, o artista falou sobre transações envolvendo vendas de aeronaves de sua empresa Balada Eventos para a Esportes da Sorte e para o proprietário da VaideBet.

O sertanejo respondeu aos questionamentos da polícia por meio do advogado Cláudio Bessas. As respostas foram enviadas antes da ordem de prisão preventiva do cantor, proferida no dia 23 pela juíza Andrea Calado da Cruz e revogada no dia seguinte pelo desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, do TJ-PE (Tribunal de Justiça de Pernambuco).

Gusttavo Lima foi questionado sobre sua relação com José André da Rocha Neto, dono da empresa VaideBet, e a esposa dele, Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha. O cantor disse que conheceu o casal em um evento em junho de 2022 em Campina Grande, na Paraíba.

“Após o evento, José André da Rocha entrou em contato com a equipe do peticionário [Gusttavo Lima] com o objetivo de celebrar um contrato de uso de imagem, para que a imagem de Gusttavo Lima fosse usada na divulgação da marca VaideBet”, diz trecho do depoimento por escrito.

O sertanejo ainda alegou que, após a negociação, foi firmado um contrato de direito de uso de imagem entre o cantor e a VaideBet. “Portanto, [Gusttavo Lima] não possui relação de intimidade com José André da Rocha Neto ou Aislla Sabrina, mas uma relação profissional que ocasiona momentos de convivência entre as partes”, afirmou a defesa.

Por meio de seu advogado, Gusttavo Lima também negou qualquer ocultação de recursos ou ilegalidade nas negociações e no contrato com a empresa de apostas. “Não houve qualquer dissimulação ou ocultação em tal negócio jurídico. Além disso, todos os pagamentos de tal contrato ocorreram de modo formal, por via dos canais bancários usuais, com emissão de notas fiscais e pagamentos de tributos.”

Ainda no dia 11, o cantor afirmou que não conhece pessoalmente Darwin Henrique da Silva Filho, CEO da Esportes da Sorte, também investigado na operação.

“Em maio de 2023, a Balada Eventos vendeu a aeronave PR-TEN para a empresa Sports Entretenimento, de propriedade de Darwin Henrique Filho”, diz a carta enviada pela defesa do cantor.

Gusttavo Lima afirma também que “o valor da venda foi de US$ 6 milhões, a ser convertido na data do adimplemento das parcelas, sendo que foram pagas duas parcelas de tal montante pela Sports Entretenimento”. As parcelas pagas foram de R$ 4,9 milhões, em maio de 2023, e de R$ 4,8 milhões em julho de 2023, segundo a investigação.

O cantor diz que a aeronave teve um problema técnico constatado em uma inspeção após a venda, o que teria motivado a devolução da aeronave e das duas parcelas pagas —totalizando mais de R$ 9,7 milhões para a sua empresa.

“Todo o negócio jurídico foi documentado. Os registros formais da compra e venda não possuem qualquer ocultação ou dissimulação. As partes, o objeto e os valores são exatamente os que efetivamente compunham a relação negocial”, alega ainda o advogado de Gusttavo Lima.

A defesa diz que, “em paralelo, em 1º de fevereiro de 2024, a Balada Eventos também alienou, pelo valor de R$ 33 milhões, o avião PR-TEN” para a empresa JMJ Participações LTDA, pertencente a José André da Rocha Neto.

Uma parte do valor (R$ 7,7 milhões) foi paga por abatimento em razão da venda de um helicóptero da Balada para Rocha Neto, que teria desistido da compra alegando necessidade de uma aeronave maior, segundo a carta precatória enviada à polícia.

No dia 8 de agosto, menos de um mês antes da Operação Integration ser deflagrada, a propriedade da aeronave de prefixo PR-TEN foi transferida para a JMJ Participações, segundo a carta, “lavrando o recibo de transferência de propriedade”.

“Na sequência, em 12 de agosto de 2024, a JMJ Participações deu entrada na Anac para alterar igualmente a propriedade da aeronave para o seu nome”, diz.

Na última sexta-feira (27), o sertanejo realizou o primeiro show após a ordem de prisão. A apresentação aconteceu em Marabá, no Pará. No final do show, Gusttavo Lima se benzeu, ficou alguns minutos em silêncio, agradeceu ao público pela recepção e falou várias vezes a frase: “Faça o certo, porque o errado todo mundo faz”./Folha SP

(Foto reprodução)

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