É só dizer “sorri, Miguel” que o menino de dois anos franze a testa e mostra os dentinhos para a câmera. A esperteza de Miguel é registrada constantemente em fotos e vídeos no Facebook da mãe, Aline Ferreira, 32. Mas existe um cuidado. “Deixo tudo restrito aos meus amigos”, garante a autônoma. Em tempos de compartilhamento constante de imagens em redes sociais, a atenção de pais, o bom senso e o diálogo familiar no momento da publicação (e dos comentários em fotos) são fundamentais.
Na casa de Aline, as imagens no perfil da filha Vivian Stephanie, 13 (Vivian Syllyns na rede) alavancam entre 300 e 400 “curtidas”. Ela e os amigos da mesma idade gostam de parecer populares e carismáticos. A performance pode ser abalada quando os pais também começam a se conectar e interagir com o que é publicado pelos filhos. “Às vezes, minha mãe coloca uma foto em que me acho gorda, feia ou desarrumada. Eu peço para ela apagar”, diz Vivian. Aí vem a negociação. “Eu faço uma foto, ela pede para postar primeiro no perfil dela. Sabe até o horário em que as pessoas curtem mais”, diz a mãe. No diálogo, Aline e Vivian equilibram as visões divergentes.
“Assim como numa festa de maior público jovem, em que há um incômodo com a presença de adultos, não seria diferente nas redes sociais”, explica a psicóloga Ilana Camurça Landim. Na tese de Mestrado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ela pesquisou a construção da imagem de si entre os adolescentes no ambiente virtual. Na Internet, eles socializam e alimentam o que gostariam de mostrar ao mundo. E interferências nessa imagem podem incomodar. “Eles tendem a analisar desde a roupa que utilizam a quem os acompanham nas fotografias”, frisa.
Na casa de Nayara Freitas, 13, as fotos da infância são quase todas impressas. A nova configuração do álbum de família, agora virtual e compartilhado, também divide opiniões. “Não gostamos de ser marcados nas fotos postadas pelos pais. Eles (os pais) acham bonitinho. A gente acha que os amigos vão rir”, explica. Um exemplo foi a foto publicada pela mãe: era Nayara aos dez anos em uma festa de São João. “Era horrível! As amigas gostam de salvar nossas fotos feias para postar no nosso aniversário. Essas fotos queimam o filme”, reclama a filha.
Com ou sem rede social, adolescência é tempo de se distanciar dos pais e se aproximar dos semelhantes, lembra Ilana. Conforme orienta, é preciso equilibrar o acolhimento das queixas do filho com a função parental de proteger e defender a privacidade de crianças e adolescentes. (O Povo Online).