Desde que o jornalista e apresentador Marcelo Rezende, que morreu neste sábado (16), anunciou que ia buscar tratamentos alternativos e religiosos para o câncer, houve intensa discussão entre fãs, médicos e curiosos.
A questão sempre tem um aspecto pessoal importante, mas, do ponto de vista científico, será que a escolha do apresentador é justificável? Trago aqui dois números importantes para essa discussão.
Segundo um estudo recente publicado no periódico científico “The Journal of the National Cancer Institute”, a chance de pessoas que buscam tratamentos alternativos (TA) morrerem por causa da doença é mais do que o dobro daquela dos pacientes que seguem a medicina convencional (MC).
Para realizar o estudo, os cientistas selecionaram 280 pacientes que seguiram tratamentos alternativos. Para cada um desses pacientes, dois outros com histórico clínico e dados demográficos equivalentes foram selecionados, totalizando 580 pacientes. Por causa do pequeno tamanho da amostra, não houve segmentação por tipo de TA.
O tamanho do prejuízo varia de acordo com o tipo de câncer. As curvas de sobrevivência mostram que para o câncer de próstata, no período avaliado, de cerca de 66 meses, praticamente não há diferença entre tratamentos alternativos ou medicina convencional. Já para o câncer de cólon, essa diferença é enorme.
Pode-se argumentar que, ao se afastar da medicina, Rezende perdeu a chance de fazer parte dos 8,2%. Ao mesmo tempo, dependendo da gravidade da doença, essa chance logo de largada já poderia ser pífia.
Cada vez mais o foco da discussão no caso de pacientes com câncer avançado ou terminais tem se deslocado do tempo de sobrevida para a qualidade de vida –entre os fatores levados em conta estão o desejo do paciente e a amenização do sofrimento.
Nessa linha de argumentação, não parece correto condenar um homem por escolher como ele vai passar seus últimos meses de vida.