Pacientes que fazem tratamentos alternativos para o câncer morrem mais; caso Marcelo Rezende

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Por Gabriel Alves – Folha de SP
Desde que o jornalista e apresentador Marcelo Rezende, que morreu neste sábado (16), anunciou que ia buscar tratamentos alternativos e religiosos para o câncer, houve intensa discussão entre fãs, médicos e curiosos.

A questão sempre tem um aspecto pessoal importante, mas, do ponto de vista científico, será que a escolha do apresentador é justificável? Trago aqui dois números importantes para essa discussão.

Segundo um estudo recente publicado no periódico científico “The Journal of the National Cancer Institute”, a chance de pessoas que buscam tratamentos alternativos (TA) morrerem por causa da doença é mais do que o dobro daquela dos pacientes que seguem a medicina convencional (MC).

Para realizar o estudo, os cientistas selecionaram 280 pacientes que seguiram tratamentos alternativos. Para cada um desses pacientes, dois outros com histórico clínico e dados demográficos equivalentes foram selecionados, totalizando 580 pacientes. Por causa do pequeno tamanho da amostra, não houve segmentação por tipo de TA.

O tamanho do prejuízo varia de acordo com o tipo de câncer. As curvas de sobrevivência mostram que para o câncer de próstata, no período avaliado, de cerca de 66 meses, praticamente não há diferença entre tratamentos alternativos ou medicina convencional. Já para o câncer de cólon, essa diferença é enorme.

PÂNCREAS – Esse estudo não avaliou o caso do câncer de pâncreas, do qual Marcelo Rezende sofria. O que se sabe é que a fração dos pacientes vivos após cinco anos de tratamento é de apenas 8,2%, de acordo com estatísticas americanas. Só para fim de comparação, a fração de pacientes com câncer de cólon vivos após o mesmo período é de 64,9%.
O baixo índice de resolução dos cânceres de pâncreas pode ser uma das questões que provoquem essa guinada na busca por uma cura. No caso de Marcelo Rezende, ele apostou em tratamentos religiosos/espirituais e na mudança de hábitos alimentares, conforme divulgado em sua página no Facebook.

Pode-se argumentar que, ao se afastar da medicina, Rezende perdeu a chance de fazer parte dos 8,2%. Ao mesmo tempo, dependendo da gravidade da doença, essa chance logo de largada já poderia ser pífia.

Cada vez mais o foco da discussão no caso de pacientes com câncer avançado ou terminais tem se deslocado do tempo de sobrevida para a qualidade de vida –entre os fatores levados em conta estão o desejo do paciente e a amenização do sofrimento.

Nessa linha de argumentação, não parece correto condenar um homem por escolher como ele vai passar seus últimos meses de vida.

(Por Gabriel Alves – Folha de SP)
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