O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece), Raimundo Martins, participou na última sexta-feira (26/07) da Feira Novarussense da Agricultura Familiar (FENAF), em Nova Russas. Um evento realizado pela diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do município em comemoração ao cinquentenário da entidade.
Além do presidente da Fetraece, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Russas, Lúcia Araújo, recebeu no evento, a secretária de Jovens, Milena Camelo, a coordenação da Fetraece na Região, Aparecida Soares e Brás Sousa, o superintendente do IDACE, Jose Wilson Gonçalves, o representante da CUT/CE, Emanuel Lima, o representante do IDEF, Ailton Gonçalves, o prefeito municipal, Rafael Pedrosa, o secretário de Agricultura de Nova Russas, Sérgio Brito, o vereador, Jorge Mesquita e o assessor jurídico do sindicato, Eduardo Honorato.
A CRIAÇÃO
O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Russas foi criado em 26 de julho de 1969, a partir da necessidade de uma entidade representativa para promover os direitos e reivindicar as demandas dos agricultores. A Assembléia de Constituição do Sindicato aconteceu na sede da Associação Rural, com a presença de 100 agricultores (as), que também aprovou o Estatuto Social da Entidade, de acordo com a Carta Sindical, lei nº 4.214 de 02/03/1963. Neste ato, além da criação e fundação da entidade, foi eleita a primeira diretoria, tendo como primeiro presidente o senhor João Evangelista Araújo. Fizeram-se presentes para prestigiar a este importante evento, o senhor José Gonçalves Rosa (Prefeito Municipal), Francisco Soares Leitão (Pároco de Nova Russas), Raimundo de Paiva Sobrinho (Presidente da Câmara municipal de Nova Russas), Neumara Pedrosa (EMATERCE), George Mineiro Melo ( Presidente do STTR de Ipueiras).
PRIMEIRA DÉCADA 1969- 1979
Mesmo diante dos desafios, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Russas, na primeira década de formação, impôs sua altivez e luta por um sindicato forte e atuante articulado pelas mãos dos sócios fundadores; Francisco Franciné da Costa (In Memória), João Pinto Neto (In Memória), José Amadeu de Araújo, Olindino Pinto do Nascimento e tantos outros a determinação para superar as dificuldades de um regime ditatorial que imperava no País. Os fundadores na prática faziam com que cada agricultor e agricultora reconhecessem sua importância, que cada um buscasse resolução dentro de seu próprio convívio até esgotar todas as possibilidades.
Nessa primeira década de luta sindical, a entidade contou com o apoio de Dom Fragoso, bispo diocesano de Crateús, corajoso, inteligente, “subversivo”, audacioso, bom e justo. Esses eram alguns dos adjetivos que marcaram a vida do religioso. Foi com ele que os membos sindicais tiveram a oportunidade de aprender o sentido da escuta respeitosa, a busca do crescimento coletivo, a conviver com a diversidade cultural, com a mesma postura de viver esperanças, sonhos, fraquezas, coragem e determinação frente às diversas situações e pessoas.
E foi com o espírito de luta, coragem e muita determinação que foi implantado o fermento sindical no município de Nova Russas, baseado na teologia da libertação e nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBS.
SEGUNDA DÉCADA 1979 – 1989
A Segunda década, também foi marcada por muitas lutas e resistências por parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Russas, pois, além do enfrentamento do regime político ditatorial vigente, havia a luta constante de direitos contra as classes dominantes, os coronéis, tentavam a todo custo, massacrar a classe trabalhadora negando-lhes a cidadania e excluindo-os da história. Muitas dessas lutas merecem registro.
A Luta contra a seca e manifestações pela sobrevivência na ocupação das ruas de Nova Russas por parte dos trabalhadores rurais e urbanos, com apoio de Pe. Miguel e Irmã Cleide. Neste movimento foi preso e torturado o trabalhador conhecido por Dedé Carreteiro e aberto pelos “coronéis” locais, um processo criminal contra Irmã Cleide.
A prisão do sindicalista, Luiz Gonzaga Vieira e seu companheiro Antonio Fernandes (in memória), por reivindicarem melhores condições de trabalho na construção do Açude Farias de Sousa. A desapropriação conflituosa da Fazenda Pintada, que resultou na morte de um trabalhador rural, senhor Antonio Carlos.
A luta das sete irmãs negras conhecidas como “As Miguéis”, para garantir o direito de morar e produzir o sustento na terra que foram nascidas e criadas, Fazenda Riacho Fechado, hoje município de Ararendá – Ce. A desapropriação das Fazendas Lagoa do Norte e Morro Agudo. O apoio e parceria na criação de importantes associações como: Associação das Crocheteiras Novarussenses – ASCRON; Associação de Produtores Rurais de Bálsamos, Irapuá, Espacinha, Retiro e Canafístula;
O Sindicato também esteve presente no processo de emancipação do município de Ipaporanga, bem como na fundação do STTR de Ipaporanga.
TERCEIRA DÉCADA 1989 – 1999
Em 1989 o País entrava na primeira eleição direta após o período militar, na disputa pela presidência da República os principais representantes de duas classes bem distintas, de um lado, representando a classe trabalhadora, Luiz Inácio Lula da Silva e de outro, Fernando Collor de Melo, representante das classes dominantes.
Em Nova Russas, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais participava efetivamente do Movimento denominado Grito da Terra Brasil. A entidade ganha mais participação social, com representação em Conselhos Municipais: de Saúde, Assistência Social, Educação e CMDS. Fundou o sindicato do agora município de Ararendá, realizou a festa de comemoração dos trinta anos e fundou o Partido dos Trabalhadores no município.
QUARTA DÉCADA 1999-2009
Na quarta década, já se tinha um sindicato marcado pelas conseqüências de tantas lutas, contudo, pronto para enfrentar mais um processo eleitoral com eleição para presidente do Brasil, onde os dois projetos políticos continuavam em disputa. Dessa vez a classe trabalhadora saiu vencedora com a eleição do primeiro operário e sindicalista escolhido para governar o país, Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a eleição de Lula, os trabalhadores, mulheres, jovens, negros, índios e a sociedade brasileira puderam respirar um pouco mais aliviados e ver muitos de seus direitos serem promovidos e garantidos, tais como: O Direito a Terra, Direito a Água, com destaque às Cisternas de Placas, Direito a Energia Elétrica, com o Luz para Todos, Direito ao Crédito, com destaque para o PRONAF, Programas de Transferência de Renda e tantos outros direitos, resgatando o respeito à cidadania e auto-estima da classe trabalhadora.
Foi nesse período que o sindicato elegeu uma mulher como primara presidente da entidade,Lucia Araujo de Sousa. (Lucinha do Sindicato). Promoveram a ampliação do prédio da sede e a construção do auditório. Atingiram a marca de sete mil associados e participaram diretamente do movimento da Marcha das Margaridas.
QUINTA DÉCADA 2009-2019
Aos cinquenta anos a maturidade chega e o olhar crítico e fixo voltado para trás, obriga a entidade a fazer um balanço de tantos anos de luta. A conclusão é positiva, haja vista, que nessa década muitas lutas e ações foram travadas para o fortalecimento do movimento sindical e de políticas que beneficiem os agricultores (as) familiares do município de Nova Russas.
O apoio ao Cooperativismo e ao Associativismo ganharam força, a Realização das Feiras da Agricultura Familiar foram se consolidando ao longo dos anos, outros grupos ganharam espaço na estrutura sindical, mulheres, jovens e pessoas da melhor idade, também teve incentivo ao programa de Educação Contextualizada, Educação do Campo e Fortalecimento das Políticas de Convivência com o Semi-árido com apoio total na construção de cisternas de placas e implantação quintais produtivos.
Por fim, o STTR realizou o 1º e 2º Festival de Jovens do Campo, elegeu a primeira Jovem para o cargo de Secretária de Jovens Rurais na direção estadual da FETRAECE – Milena Camelo e apoiou efetivamente e a implantação dos programas federais: Programa Nacional de Alimentação (PNAE) e Programa de Aquisição Alimentar (PPA).
A história do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Russas se confunde com a evolução da história da classe trabalhadora e produtiva do município.
( Fotos: Marcos Felipe)