O sociólogo Demétrio Magnoli, em artigo na Folha deste sábado (26), não poupa críticas à forma como a bancada do PSDB na Câmara votou durante análise do veto à flexibilização do fator previdenciário. Para ele, o bloco golpista, liderado pelo senador Aécio Neves, é formado por “oportunistas”. “Sob o encanto do impeachment, todos os demais revelam-se dispostos a queimar o navio para limpar um de seus porões. O principal partido de oposição, que não tinha rumo nos tempos áureos do lulopetismo, segue sem bússola na hora da mudança”, diz.
“Seduzidos pelo canto das ruas, os cavaleiros do impeachment reduziram a política à sua menor dimensão, substituindo o imperativo de derrotar uma narrativa sobre o Estado e a sociedade pela meta exclusiva de derrubar a presidente. No caminho, enfiados em armaduras medievais, atrelaram o PSDB ao jogo de conveniências do PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. De fato, em nome de um objetivo que depende de outros, renunciaram a fazer o que está a seu alcance”, complementa.
Para ele, os tucanos da Câmara retrocederam “à época da irresponsabilidade fiscal crônica anterior ao Plano Real”. “Na madrugada do oportunismo, os deputados tucanos desperdiçaram a oportunidade de desmascarar a narrativa lulopetista, revezando-se ao microfone para explicar que o veto presidencial é a homenagem prestada compulsoriamente pelo vício à virtude. Mas, no lugar de confrontar o FHC do fator previdenciário à Dilma do colapso fiscal, escolheram perder duas vezes, nas esferas do voto e dos princípios. Os cavaleiros do impeachment não passam de moleques brincando de Idade Média”, acusou.
Magnoli avisa ainda ao PSDB que o impeachment “situa-se fora do território controlado pelos tucanos”. “O impedimento presidencial depende de decisões prévias de instituições de Estado (TCU, TSE, STF) e, em seguida, de uma maioria qualificada no Congresso que só se formará pela ruptura do PMBD com o governo. Os cavaleiros do impeachment não têm poder para obter uma coisa nem a outra. Mas se desqualificam perante a opinião pública ao cortejar inutilmente os caciques peemedebistas envolvidos nos escândalos de corrupção”, diz. (Brasil 247).