Lula acena para comunidade internacional, se contrapõe a Bolsonaro e se apresenta como alternativa para 2022

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Em sua primeira fala pública após ter suas condenações anuladas pelo ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora elegível, acenou para a comunidade internacional, se contrapôs ao modelo administrativo de Bolsonaro e se apresentou como alternativa para as eleições de 2022. 

Lula continuou sendo Lula e defendendo o PT a todo custo, não fez nenhuma autocrítica dos erros cometidos pelo Partido dos Trabalhadores em seu governo (2003-2010) e no governo Dilma (2011-2016).

“Fiquei feliz com a verdade”, que poderá duelar com Bolsonaro nas eleições de 2022, acenando claramente que deve ir para disputa eleitoral.

“Este país não tem governo, este país não cuida da economia, não cuida do emprego, não cuida do salário, não cuida da saúde, não cuida do meio ambiente, não cuida da educação, não cuida do jovem, não cuida da menina da periferia.” deixando um claro contraponto ao modelo administrativo do presidente Jair Bolsonaro.

“NÃO TENHAM MEDO DE MIM”

“Desistir jamais. A palavra desistir não existe no meu dicionário”, disse Lula, que deu novo recado. “Não tenham medo de mim, eu sou radical porque quero ir na raiz dos problemas deste país.”

O discurso foi recheado de contrapontos a Bolsonaro. O petista fez questão de acenar a líderes mundiais que o apoiam, em oposição ao isolamento de Bolsonaro. Citou Pepe Mujica, papa Francisco e Alberto Fernandéz. O ex-presidente também elogiou jornalistas. Afirmou que a liberdade de imprensa é um pilar da democracia.

LAVA JATO

Em longa fala, Lula disse que a Lava Jato “desapareceu” de sua vida e que suas amarguras estão superadas, afirmou estar tranquilo, mas que ainda quer a punição do ex-juiz Sergio Moro, responsável por sua condenação no caso do tríplex de Guarujá que o deixou preso por 580 dias em Curitiba.

O petista disse que não há espaço para guardar ódio, mas voltou a chamar de “quadrilha” os procuradores da Lava Jato de Curitiba. “Moro sabia que a única forma de me pegar era pela Lava Jato. Eles tinham como obsessão, queriam criar um partido político. Mas a verdade prevaleceu.”

Disse que em 2018 se entregou à Polícia Federal contra a sua vontade e o fez porque tinha clareza sobre as inverdades sobre ele e que poderia provar a sua inocência em relação à Lava Jato. “Eu tinha tanta confiança e consciência que esse dia chegaria, e ele chegou.”

Na fala desta quarta-feira, Lula disse que foi vítima “da maior mentira da história jurídica em 500 anos de história do país” e afirmou que sua ex-mulher, Marisa Letícia, morreu diante da pressão que a família sofreu diante das acusações e investigações.

IMPRENSA

Lula também criticou a atuação da imprensa em geral, como na divulgação de delações premiadas da Lava Jato e também na cobertura jornalística sobre a revelação do conteúdo das mensagens dos procuradores da força-tarefa, material obtido em 2019 pelo site Intercept Brasil e divulgado por diferentes veículos de imprensa, entre eles a Folha.

GOVERNO BOLSONARO

Ainda sobre o governo federal, Lula atacou as privatizações e o que chamou de falta de prioridade na compra de vacinas, mas sim na compra de armas, voltando a citar as milícias e suas suspeitas de ligações com a família Bolsonaro.

“A dor que eu sinto não é nada”, disse Lula, ao apontar as vítimas da pandemia e em uma crítica velada à gestão de Bolsonaro.

O ex-presidente citou as pessoas que passam fome diante da crise econômica, lembrou das vítimas e de seus parentes e enalteceu ainda o que chamou de heróis e heroínas do SUS, sucateado, segundo ele, pela atual gestão federal.

VACINA

O ex-presidente, aos 75 anos de idade, disse que pretende se vacinar na próxima semana, com qualquer vacina que tenha à disposição. ‘Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República e do ministro da Saúde, tome vacina”, afirmou o presidente.

ALIADOS

Em sua fala de improviso, o petista relembrou sua trajetória desde o sindicato ao início na vida política e enalteceu os que sempre acreditaram em sua inocência. Citou inclusive a carta que recebeu do papa Francisco.

Aliados de Lula no PT e em outros partidos foram convidados para a entrevista. Estava ao seu lado dele o ex-prefeito Fernando Haddad, lançado como pré-candidato do PT à Presidência há algumas semanas, além da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, entre outros.

O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), que sempre se posicionou contra as condenações de Lula e concorda com a tese de perseguição da Justiça, também participou do evento.

Convidado pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, não compareceu. Ciro Gomes, presidenciável da sigla, quer marcar distância em relação a Lula, embora tanto ele quanto Lupi tenham sido solidários ao petista quando ele foi condenado e preso.

Antes de Lula falaram opresidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão,

A entrevista foi presencial, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Apenas equipes de imprensa entraram no prédio. O PT pediu que militantes não fossem ao local, para evitar aglomerações em meio ao pior momento da pandemia do coronavírus./

(Com informações- Folha SP)

(Foto:Marlene Bergamo/Folhapress)

 

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