A reforma possível no momento, para Jacques Wagner, não deve ser pretensiosa. Deve concentrar-se nos aspectos que produzem mais distorções e problemas para a vida democrática. “A meu ver deveríamos aprovar agora uma reforma mínima mas certeira, atacando três pontos cruciais, que são:
* Acabar com o comércio do tempo de televisão, origem da grande dispersão do quadro partidário. Neste quadro, todo e qualquer governo terá que compor uma vasta coalizão para conseguir governar, com tudo que isso acarreta.
* Acabar com a coligação na eleição proporcional, vale dizer, a de vereadores, deputados estaduais e federais. Esta anomalia só existe aqui, e sua principal consequência é a baixa representatividade dos eleitos. Com esta regra, basta um a um partido ingressar numa coalizão com um outro maior para eleger representantes. O resultado são partidos sem lastro na sociedade e a eleição de parlamentares que, fora da coligação ou sem a ajuda das sobras de um grande puxador de votos, jamais conquistariam um mandato.
* Acabar com o financiamento privado de campanhas e adotar o financiamento público. A sociedade entenderá que o Estado não estará gastando mais com a política, mas economizando recursos que sairiam pela outra porta, a da corrupção decorrente das relações promíscuas entre agentes políticos e financiadores privados. O financiamento público fechará esta porta e poupará a democracia brasileira de ser frequentemente açoitada pelos escândalos de corrupção que, segundo a própria Polícia Federal, em sua grande maioria têm relação com o financiamento de campanhas e partidos. Veja que a distribuição dos recursos legalmente doados pelas grandes empreiteiras aos três maiores partidos, PT, PMDB e PSDB, foram bastante equilibradas. Segundo dados do TSE, que vocês publicaram, em 2010 a proporção foi de 24% para o PMDB, 23% para o PT e 20% para o PDB. Em 2014, foi de 25% para o PT, 24% para o PSDB e 21% para o PMDB. O empresário apostam em ter boas relações com todas as forças políticas, que estarão no governo federal, governos estaduais ou no Congresso. Aqui não existe o alinhamento de empresas com este ou aquele partido, como em outros países. Eles não vestem nenhuma camisa, tratam de estar bem com todos. Com o financiamento público de campanhas, este relacionamento íntimo entre os doadores e os partidos acaba.
Fonte: Brasil 247