Se a implantação de um Sistema de Gestão de Recursos Hídricos eficiente representa, nos dias de hoje, a maior contribuição que a técnica e a ciência da hidrologia poderão dar à solução do problema da seca. Imagine o que representa o Açude Castanhão em termos de contribuição ao garantir água, até 2017, apesar da estiagem que assola o Ceará pelo quarto ano seguido.
Segundo o coordenador de Pesca e Aquicultura do Centro de Pesquisa em Aquicultura do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Pedro Eymard Mesquita, apesar de estarmos vivendo mais um ano de seca, a atual reserva hídrica do Castanhão é suficiente para abastecer Fortaleza por mais dois anos. “Este é quarto sem chuvas: 2012, 2013, 2014 e agora 2015. É mais um ano do Castanhão sem recarga satisfatória”, disse.
“Isso é resultado de uma política de acumulação de água, por parte do Dnocs, principalmente com a construção de reservatórios estratégicos como: o Orós, Castanhão e Pentecoste. Bem diferente do que aconteceu em anos como 1915, 1932 e 1958. Já não se tem notícias de êxodo rural, flagelo e nem da morte de pessoas por desabastecimento ou fome.”
Mesmo com estiagem, os números dos quatro projetos do Dnocs, voltados à piscicultura, superam as expectativas: as estações do Complexo Castanhão (Nova Jaguaribara), Pedro Azevedo (Icó), Osmar Fontenele (Sobral) e Amanari (Maranguape) produziram 23.449.850 espécimes para repovoamento de 66 açudes públicos e coleções de água do Estado, totalizando a distribuição de 23.236.650 alevinos. As estações são administradas pela Coordenadoria Estadual do Ceará (CEST/CE) e tiveram papel de destaque na produção e distribuição de alevinos em 2014.
Mas, o engenheiro de pesca alerta que, mesmo com números tão expressivos relacionados à produção de peixe em cativeiros, a reflexão e a preocupação, ainda são grandes . Afinal, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), este, talvez, seja o ano que chova menos no Ceará, desde 2012. “As reservas hídricas já estão muito abaixo de desejável e este fato, certamente, vai impactar na piscicultura, na agricultura”…
A preocupação do coordenador do Dnocs é pertinente, afinal, a água, como recurso limitado que desempenha importante papel no processo de desenvolvimento econômico e social, impõe custos crescentes para a sua obtenção, tornando-se um bem econômico de expressivo valor. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 70% de toda a água potável disponível no mundo é utilizada para irrigação, enquanto as atividades industriais consumem 20% e o uso doméstico 10% .
E ainda de acordo com a ONU, o uso da água tende a crescer a uma taxa duas vezes maior do que o crescimento da população ao longo no último século. As estimativas são de que o gasto seja elevado em até 50% até o ano de 2025 nos países em desenvolvimento e, em 18%, nos países desenvolvidos.
Águas do sertão sustentam as grandes cidades
Outro aspecto importante levantado pelo engenheiro Eymard, nos leva a uma reflexão: praticamente, todo o litoral recebe água do interior. O Ceará é um dos maiores exportadores de fruta do Brasil, o Ceará é um os maiores produtores de camarão cultivado do Brasil, o Ceará é um dos maiores produtores de Tilápia cultivada do Brasil , no entanto, está sendo necessário diminuir nossas pisciculturas e cortar pela metade, a produção de frutas nos perímetros irrigados,
para abastecer Fortaleza e o Pecém.
“E essa água do interior está sendo transferida para cá para atender a demanda da Capital sacrificando a produção. Se dessalinização é caro, imagino o que vai acontecer com a nossa produção. A partir de agora vamos reduzir as áreas de plantio. É caríssimo! Valeria a pena implantação das Usinas de dessalinização. Com a água indo para Fortaleza e o Pecém, o Tabuleiro de Russas pode ir para o Brejo.”
O que é mais caro? Uma usina de sinalização ou deixar de produzir, deixar de empregar? Segundo o poder público, o processo de dessalinização de água do mar é muito caro. Mas se comparado as possíveis perdas na economia, é uma questão que vale a pena ser pensada. Os árabes vivem no deserto graças à água dessalinizada; os Estados Unidos, a Espanha. “O que estamos esperando? Mais uma seca?”
Praticamente, todo litoral brasileiro é formado por grandes cidades, e o litoral “toma a água do sertão”. É o sertão sustentando as grandes cidades. Á água é a vida e esta vida está sendo tirada do sertão. O Castanhão assegura, mesmo em anos críticos, o abastecimento de água da Região Metropolitana de Fortaleza e da população do Baixo Vale.
Segundo o Dnocs, atualmente, a Barragem do Castanhão é o principal complexo hídrico responsável pelo abastecimento humano da Capital cearense e sua Região Metropolitana. Cerca de 3,8 milhões de pessoas dependem das águas represadas na região jaguaribana, tornando o açude uma das mais importantes ferramentas estratégicas de controle da seca e das cheias sazonais do Vale do Jaguaribe.
Educação
Para Eymard, uma das grandes preocupações a cerca da questão dos recursos hídricos passa pela educação e não tem como fazer paralelos. “Hoje, o problema é bem diferente de 1915 e outros anos. Sabe por quê? Devido à falta de educação no uso do recurso. Isso é generalizado desde as camadas mais elitizadas até as mais pobres. Todo mundo gasta o precioso líquido sem necessidade”, reclama.
“Considero todo mundo culpado: poder público, imprensa, os mais cultos…Ademais não temos infraestrutura de reúso de água , praticamente nada é reutilizado, vai tudo esgoto abaixo e daí para o mar. E acumular água de chuva, nem pensar.” O reúso e a educação ambiental são dois pontos que, se aplicados, podem impactar positivamente na redução do consumo e priorização da água potencialmente tratada para uso humano.
O engenheiro defende, também, o uso de cisternas. Se cada edifício, se cada casa construída tivesse uma cisterna, a água de chuva poderia ser acumulada. Ao invés disso, vai para o ralo. Isso acontece por toda a cidade. “Eu pergunto, qual a estrutura de Fortaleza para guardar água? Agua de chuva toda para o mar”.
De retirantes a operários: Trabalho, resistência e conflitos nas obras contra as secas (1915-1919)
Livro de autoria de Lara de Castro
“Os poderes públicos têm conhecimento do fenômeno da seca desde o período colonial, mas foi somente na segunda metade do século XIX que a questão ganhou repercussão nacional como um problema. Com a seca de 1877, cenas de tragédias e horrores foram descortinadas: fome, falência, migrações vultosas, furto, prostituição, peste e morte compuseram esse quadro. A estiagem prolongada mobilizou o Império no sentido de realizar uma ação para conter as posteriores secas.”
Castanhão: Maravilha Hídrica Nordestina
Uma obra hídrica de proporções nunca antes realizada no semiárido brasileiro. O açude Castanhão, idealizado ainda nos primórdios do século XX, teve seu apogeu em 2004, quando 5,5 bilhões de metros cúbicos, dos 6,7 bilhões de capacidade máxima, foram cheios em apenas 40 dias, contrariando a previsão de vários especialistas. Alguns garantindo até que a obra nunca seria vista em seu pleno de água. Ledo engano.
Localizado no Médio Jaguaribe, abrangendo as cidades de Alto Santo, Jaguaribara e Jaguaretama, os 325 km quadrados do lago que some à vista de quem o visita modificou paradigmas. Também alterou a conjectura socioeconômica de toda região e mostrou, a um continente inteiro, que é possível conviver, de forma digna e produtiva, com os percalços causados pela natureza.
A Barragem do Castanhão, concebida como reservatório interanual de usos múltiplos, tem por objetivos o controle de cheias do Baixo Vale do Jaguaribe e a constituição de um reservatório pulmão que, através da interligação com outras bacias, pudesse ampliar a oferta de água para outras áreas do Estado do Ceará.
Além do abastecimento urbano, os 60.000 ha de área inundada em sua cota cheia máxima vêm trazendo grandes benefícios ao setor agrícola e da piscicultura, fomentando ainda mais o desenvolvimento sustentável do Estado e da região do Vale do Jaguaribe. Estima-se que a população beneficiada com a implementação do Complexo é da ordem de 3,5 milhões de habitantes, envolvendo 12 municípios. O Castanhão está viabilizando a irrigação de cerca de 40.000 ha de solos irrigáveis.
Atividades produtivas também foram alavancadas com a construção da barragem. O potencial de produção de pescado é estimado em 3.800 toneladas/ano. A geração de 22,5 megawatts de energia também é uma das características do espelho d’água, além da constituição de um polo turístico e de lazer que atende a toda a região.
Fonte: Dnocs