Gestantes realizam “abortos preventivos” após a infecção do zika vírus

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Gestantes diagnosticadas com o zika vírus estão recorrendo ao aborto clandestino mesmo sem a comprovação da má-formação dos fetos. Os preços das clínicas particulares variam entre R$ 5 mil a R$15 mil. Todas as mulheres são casadas, possuem nível superior e boas condições financeiras, mas ficaram aflitas ao saber da possibilidade do bebê nascer com microcefalia.
De acordo com a entrevista realizada pela Folha de S.Paulo, três médicos relataram casos de mulheres que tomaram essa decisão. As gestantes estavam entre a sexta e a oitava semana. A interrupção ocorreu por meio do misoprostol (Citotec), medicamento obtido no mercado ilegal.
Segundo o infectologista Artur Timerman, duas mulheres paulistas foram diagnosticadas com a doença por meio do procedimento PCR, que pesquisa a presença do material genético do vírus no sangue do paciente. “Elas me perguntaram se havia risco do bebê nascer com microcefalia. Eu disse que sim mas não saberia estimar quanto seria o risco”, conta Timerman. O médico afirmou ter tido conhecimento depois que as pacientes realizaram o aborto com outros profissionais, mesmo sem ter aconselhado que elas fizessem ou não.
Além desses casos, outro infectologista, chamado Roberto Badaró da Bahia, contou que ficou sabendo de outros casos de “abortos preventivos” após a identificação do vírus.
O motivo das mulheres anteciparem o aborto é a demora da confirmação da microcefalia nos bebês, que costuma ser diagnosticada na 28º semana de gravidez. Nesses casos, o procedimento torna-se complexo devido ao estágio da gestação.
Segundo o obstetra Thomas Gollop, professor da USP, conta que as lesões causadas pelo vírus são maiores do que se pensa. “Há muitas repercussões neurológicas, cegueira, surdez sem perspectiva de cura ou de melhora. O termo mais apropriado é síndrome fetal do vírus, não só microcefalia”, relata.
Ação Judicial
Grupo de advogados, acadêmicos e ativistas articulam uma ação, que deve ser entregue em até dois meses, para o STF (Supremo Tribunal Federal) a fim de garantir o direito ao aborto legal para as gestantes de bebês com microcefalia.  Segundo o grupo, o Estado é o responsável pela epidemia do Zika vírus por não ter erradicado o seu transmissor, Aedes aegypti. Desse modo, as mulheres não podem sofrer as consequências de políticas públicas ineficientes, ferindo os direitos constitucionais à saúde e à seguridade social.
O documento exige ações contra o mosquito transmissor, o direito ao acesso a contraceptivos, pré-natal frequentemente e ao aborto, e políticas públicas de inclusão social as crianças com microcefalia ou alguma má-formação decorrente da doença.
De acordo com a antropóloga Débora Diniz, do instituto de bioética Anis, é necessário garantir o acesso aos serviços de saúde, inclusive o aborto, a todas as mulheres. “Autorizar o aborto não é levar as mulheres a fazê-lo. Quem tem dinheiro e quer já faz. Justamente quem tem mais necessidade não pode ser privado do direito de escolher sobre a própria vida”, argumenta.
Microcefalia
Diferentemente da anencefalia, os bebês com microcefalia sobrevivem na maioria dos casos, mas a doença impede o desenvolvimento normal do crânio durante a gestação, afetando o crescimento do cérebro e consequentemente afetando todo o corpo. A doença pode causar deficiências mentais, limitações na fala, na audição e nos movimentos.
No Brasil, há 3.448 casos suspeitos sendo investigado pelo Ministério da Saúde.  Apesar das fortes suspeitas não há ainda uma comprovação científica que afirma a relação do vírus com a doença, porém a chegada do vírus em algumas regiões está sendo associada por um grande aumento de nascimentos de bebês com más-formações.
O diagnóstico da doença é tardio, pois só é possível a identificação, em média, a partir da 27º semana de gestação, correspondente ao fim do sexto mês.
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