Por Reginaldo Silva- Professor, Radialista e Jornalista

O ano político começou mais cedo no Ceará. Os atores envolvidos no cenário eleitoral para 2026 já se mobilizam em diferentes frentes para apresentar ao povo cearense suas narrativas centrais.
Assim, analisando o cenário político atual no Ceará, é possível identificar os temas que pautarão o debate nas eleições do ano que vem.
No último ano, o governador Elmano de Freitas iniciou a construção de uma marca própria, buscando se distanciar do slogan da campanha “Ceará Três Vezes Mais Forte”, que o vinculava diretamente a Lula e a Camilo Santana, fortemente trabalhado no período eleitoral. Nos dois primeiros anos de gestão, muitos gestores se apoderaram de ações do governo embalados por essa campanha que acabou tirando o brilho de ações governamentais e retardando o processo de criação de uma identidade própria do governador Elmano de Freitas.
Após a reforma administrativa, o chefe do Executivo estadual apresentou uma nova proposta de gestão, centrada no combate à fome, na interiorização do tratamento de câncer, na expansão da rede hospitalar e das Escolas em Tempo Integral, com entregas em ritmo acelerado, buscando consolidar a identidade própria do governo.
Nesse percurso, Elmano se deparou com a intensificação das ações das facções criminosas no estado e com o “tarifaço” de Trump, medidas que aumentam impostos de produtos brasileiros, instituída pelo governo dos Estados Unidos e que afeta diretamente o Ceará. Duas crises em curso, sem soluções imediatas e que servem como teste para o governo, que luta para construir sua própria marca.
Na oposição, um lado parece bem definido, a direita de André Fernandes e Eduardo Girão tem pontos cristalizados: o combate ao PT, anistia geral aos envolvidos no atentado à democracia em 8 de janeiro e impedimentos de ministros do STF, pautas caras ao bolsonarismo raiz no país e no estado.
Outros dois atores políticos do Ceará também intensificaram suas ações de fortalecimento de críticas ao governo Elmano de Freitas. Capitão Wagner voltou à velha pauta da segurança pública, diante do quadro de agravamento da violência no estado e tenta capitalizar politicamente sobre o tema.
Roberto Cláudio, até por sua formação, tem direcionado suas críticas ao campo da medicina e da economia, ampliando o espectro de atuação do bloco de oposição no Ceará.
O ex-ministro Ciro Gomes se notabilizou nos últimos anos, mais por suas críticas à polarização política, no combate a Lula e Bolsonaro, do que propriamente por feitos políticos concretos, devido ao longo período de afastamento de mandatos eletivos, seja no Executivo ou Legislativo.
Ciro é um dos nomes citados como um dos possíveis pré-candidatos ao Palácio da Abolição, não se sabe ao certo, se seria parte da formação de uma base ampla, incluindo o campo da direita ou se sairia por uma candidatura de centro, voltada para manter a linha de coerência do discurso que dominou sua pauta política nos últimos anos.
O fato é que a política cearense segue em ebulição. Enquanto uns se mexem, outros silenciam. A ausência de definições aumenta o suspense. Nesse jogo do poder, o silêncio também é estratégia, mas se não for quebrado na hora certa, o preço pode ser alto.