Entenda por que as redes sociais estão escondendo as ‘curtidas’ dos usuários

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Parecia um teste inofensivo, mas virou uma tendência que dominou a web: nos últimos meses, Twitter, Instagram, You Tube e Facebook  anunciaram ou já implementaram testes para esconder números cruciais de suas plataformas – como o de curtidas em uma foto ou de inscritos em um canal popular. Por trás do discurso de melhorar a experiência – e a saúde mental – dos usuários, porém, as redes sociais podem estar prestes a se deparar com o esgotamento de um modelo que moldou a internet na última década: o “like” como sinônimo de expressão online e métrica de negócios.

Em fevereiro, o botão Curtir fez dez anos. De lá para cá, ajudou a popularizar um tipo de interação que funciona como fast- food: rápida, instantaneamente prazerosa, mas também superficial e que, em demasia, pode fazer mal. Mais do que uma forma de manifestação, a curtida virou base para um sistema de métricas para direcionamento de anúncios e incentivou o surgimento de influenciadores digitais.

O número de curtidas no Facebook passou a empilhar dados sobre hábitos e gostos, além de indicar quais conteúdos e personalidades são populares nas redes socais. Tudo isso se espraiou para outras redes – como o Instagram, comprado pelo Facebook em 2012 – e também em produtos de rivais, como o Twitter e o YouTube, do Google. Procuradas, as quatro plataformas não quiseram participar da reportagem, mas confirmaram os testes ou a intenção de fazê-los em breve.

Do lado do usuário, nasceu a cultura de produzir conteúdo em busca de likes, em uma espécie de concurso de popularidade. Para quem não consegue criar conteúdos que “viralizam”, surgiram empresas que vendem likes – com a ajuda de “fazendas de robôs”, milhares de dispositivos prontos para curtir algo ou popularizar uma #hashtag nas redes.

Hoje, basta abrir a carteira para ser popular – mas esse comércio gerou desequilíbrio. “O like funcionou bem até os robôs surgirem”, diz Luis Peres Neto, professor da ESPM. Para as empresas e marcas, ficou difícil determinar o que de fato fazia sucesso e o que era artificial. Para os usuários, a pressão só cresceu.

Das plataformas citadas acima, a primeira que promove um teste amplo para remover a contagem de curtidas de suas plataformas foi o Instagram – que diz lutar justamente contra a busca desenfreada por aprovação e o custo mental que isso traz aos usuários. Há motivos para a preocupação: em 2017, a agência de saúde pública do Reino Unido considerou o app como a pior rede social para a saúde mental e o bem estar das pessoas. Hoje, usuários de sete países, incluindo o Brasil, já não veem mais quem aprecia suas fotos de comida, selfies e pôr-do-sol.

Como poderá ser a internet ‘pós-like’

Para analistas, o sumiço dos números de likes pode ser um teste para o futuro das redes sociais. “Acho que as empresas querem entender se, sem os likes, poderão reverter a tendência de queda nas postagens e no número de usuários”, diz Leandro Bravo, diretor de relacionamento da agência Celebryts, que lida com influenciadores digitais.

Na visão de Bravo, é possível que o sumiço dos likes seja até uma medida para camuflar uma possível queda na popularidade. A teoria se aplica principalmente ao Facebook, que registra quedas no engajamento dos usuários. Em abril deste ano, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 56% dos brasileiros online tinham uma conta na rede social. Em 2017, eram 61%.

Esconder o número de curtidas também pode ajudar a mascarar como seu algoritmo – uma receita cheia de temperos secretos – funciona. Sem a referência dos likes, é mais difícil perceber as mudanças da “fórmula mágica”.

O que cada rede social está fazendo

Facebook

A rede social confirmou testes internos com o fim da contagem de ‘likes’  Ainda não está

Instagram

Em sete países, não é possível ver os ‘likes’ dos outros  nas versões do app para celular. Só é possível ver os números da sua conta. Já na web, os números aparecem.

Twitter

Desde março, o Twitter testa no app protótipo Twitter um recurso que esconder o número de curtidas, e comentários. Mas a função pode nem ser lançada.

YouTube

O YouTube deixou de mostrar o números exato de inscritos nos canais. A contagem só mostrará números aproximados: se um canal tem 6.344.700 inscritos, ele exibirá agora 6,34 milhões./AE

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