O ex governador do Ceará e ex ministro Cid Gomes concedeu entrevista a jornalista Júnia Gama e fala sobre a inoperância do Governo Federal no caso Cunha, política econômica e sobre a possibilidade do enfrentamento entre Lula e Ciro em 2018.
CASO CUNHA
“O governo está se acovardando diante de Cunha. Está faltando coragem para enfrentá-lo. Passaram-se sete meses e as pessoas me cumprimentam pela minha postura na Câmara. Chego a um lugar onde foi feito um investimento extraordinário quando eu era governador, e a pessoa vem me cumprimentar não é por isso, é pelo meu discurso na Câmara. Essas coisas encontram eco popular. O povo está cheio disso. O governo tentar acordo com uma figura como essa não contribui em nada para que ele resgate sua popularidade. Pode até ficar até o fim, mas sem popularidade, qual o retorno disso? Só vale a pena estar no governo para estar bem com o povo. Estar no poder sobrevivendo, sem ter respaldo popular, para que serve isso?”
GOVERNO DILMA
“Eu não acredito em renúncia, acredito em luta. Penso que Dilma é séria e bem intencionada e quer o melhor para o Brasil. Essa minha convicção ainda não foi abalada. Vive um momento de fragilidade da popularidade muito grande, casado com a crise econômica, que em boa parte tem a ver com a matriz fiscal do governo e a condução equivocada de políticas macroeconômicas. Não faz sentido, em uma crise fiscal, fazer elevação de juros como se está fazendo. A lógica ortodoxa é ter juro alto e inibir o consumo, no pressuposto de que a inflação é por conta de uma demanda maior do que pode produzir o país. Essa não é nossa situação.”
JOAQUIM LEVY
“Não diria que o maior problema do governo é ele. Ele chegou em um momento de tentativa de resgate da confiança do mercado. Não faz sentido colocar nele a culpa. Mas essa coisa tem limite, insistir mais de um ano com uma política de elevação de juro está errado. Mas não pode pessoalizar. É oportunismo demais atribuir a um CPF uma crise que é realmente do país. O governo tem que enfrentar com transparência essa discussão. Mas sei que é muito difícil fazer isso com a faca no pescoço colocada pelo Eduardo Cunha e a oposição golpista.”
CUNHA E O CONGRESSO
“Ele tem toda a prática do que chamei de achacador. É um ser abjeto, nojento, uma pessoa que passa o tempo criando dificuldades para o Executivo para arrancar vantagens. No caso dele, pessoais. Fortuna. Ele não está na presidência da Câmara à toa, porque ele representa hoje um estilo que é majoritário na Câmara. É um vagabundo que se aproveita do poder político. Para mim, é um morto-vivo. Mas sou descrente de que alguma providência parta do Parlamento, porque boa parte é podre como ele e outra parte, oportunista.”
“…Tem a oposição golpista, que se aproveita do estilo dele de achaque. Ele vai no cinismo, acenando para a oposição com a possibilidade de impeachment. Tem uma grande parte da base do governo que age do mesmo jeito e, portanto, enxerga nele uma possibilidade de proteção. Ando meio cético, decepcionado com a política brasileira. Não gosto de generalizar, mas vivemos hoje um dos piores momentos da representação parlamentar no Brasil.”
IMPEACHAMENT
“…No Brasil, jamais se fará impeachment sem elementos claros e inquestionáveis de crime de responsabilidade. Pode-se tentar de tudo, pedalada, mas até hoje nenhum motivo aparente, que possa ser fonte de convencimento, foi conseguido contra Dilma. Não se fará. Pode até se abrir o processo. Eu iria para uma medida extrema. Quando se está com a razão, tem que enfrentar, mesmo se expondo à chantagem ou ações oportunistas. O povo é que é o juizado. Está faltando ao governo acreditar nisso. O impeachment da Dilma leva a Michel Temer como presidente. Ele é o simbolo, presidente desse partido a que Cunha pertence e do qual inúmeros outros no mesmo estilo também são expoentes. A solução do Brasil não é por aí.”
EX-PRESIDENTE LULA
“Lula não é anjo, nem demônio. Fez muitas coisas importantes, há evolução em várias áreas nos últimos quinze anos. Por outro lado, Lula é responsável pela institucionalização do loteamento, com vistas grossas, das estruturas públicas. Ele fechou os olhos para muitas coisas ruins que deixam sequelas graves para o país. Todo esse escândalo da Petrobras aconteceu na gestão do Lula. Com certeza é vista grossa que foi feita por ele e por quem conduzia, José Dirceu, como uma rendição da necessidade de manutenção do poder.”
CIRO X LULA EM 2018
“Não acredito jamais que Lula seja candidato. Só se for burro, coisa que ele não é. Quem foi presidente duas vezes tem que cuidar do seu legado, da sua história.
Pode-se esperar mudança no temperamento explosivo de Ciro?
Boa parte era ímpeto da juventude. Naturalmente, ele amadureceu nesse aspecto. Mas boa parte foi oportunismo da oposição.”