Desconfio de quem se diz contra a corrupção. A razão é simples: ninguém é abertamente a favor da corrupção
“Chega. Não quero nunca mais tocar neste assunto de petróleo. Amargurou-me doze anos de vida, levou-me à cadeia –mas isso não foi o pior. O pior foi a incoercível sensação de repugnância que desde então passei a sentir sempre que leio ou ouço a expressão ‘Governo Brasileiro’”¦”.
Em 1936, Monteiro Lobato escrevia “O Escândalo do Petróleo”, em que denunciava a corrupção do Serviço Geológico Nacional –quase 20 anos antes da criação da Petrobras. Foi preso e sua prisão o levou à falência, da qual nunca se recuperou. Morreu aos 66 anos.
Nos anos 90 foi a vez de Paulo Francis denunciar a corrupção da estatal e morrer afundado em dívidas decorrentes do processo.
“Para acabar com a corrupção é preciso varrer o PT do país”, disse Aécio Neves (PSDB), que pelo visto acredita piamente na idoneidade do PP, do PR, do DEM, do PMDB. Um dos problemas da oposição é que ela superestima o PT. O PT não inventou nem o Bolsa Família (salve Cristovam Buarque), principal bandeira do partido –imagina se teria inventividade para inaugurar a corrupção.
Bradar contra a corrupção é a forma mais rápida de se eleger no país. Foi essa bandeira que elegeu, entre outros, Fernando Collor de Mello –o “caçador de marajás”. Collor não tinha história nem ideologia, tinha só a fama –bancada pelos principais meios de comunicação– de guardião da moralidade.
Desconfio de qualquer pessoa que se diga contra a corrupção. A razão é uma só: ninguém é abertamente a favor da corrupção, logo não faz sentido protestar contra ela. Um protesto sem oposição é um protesto chapa-branca, porque não atinge ninguém diretamente. É como protestar contra o câncer. “Abaixo o carcinoma!”
O câncer não tem bancada no Congresso. Protestar contra ele não vai ofender ninguém. É preciso atacar o amianto, o glutamato monossódico, os agrotóxicos e as tantas substâncias cancerígenas defendidas por muita gente e consumidas por todos nós.
A corrupção no Brasil é permitida e incentivada pela lei –e a lei não deve mudar tão cedo. Quem poderia mudar a legislação é quem mais lucra com ela. Não é de se espantar que Eduardo Cunha (PMDB) –o homem-amianto–, que arrecadou (declaradamente) milhões de mineradoras, faça tudo para impedir um novo código da mineração e o fim do financiamento privado de campanha. Enquanto os políticos forem eleitos por empresas, vão continuar governando para elas.