A quantidade de pedidos de inscrições de médicos brasileiros na Ordem dos Médicos de Portugal disparou nesses últimos tempos, e deve aumentar, já que todas as semanas chegam novos pedidos. A informação é do jornal lisboeta Diário de Notícias.
As solicitações para poder trabalhar no país, são feitas tanto por jovens profissionais, como por médicos especialistas no topo da carreira.
Em termo de comparação, no ano de 2013 foram registrados sete pedidos, no ano passado o número subiu para 57 e neste ano, o número já caminha para bater o recorde da última década.
Para se ter uma ideia, em um ano e meio, só na região sul de Portugal, já houve quase tantas inscrições como durante todo o ano de 2017 em todo país. Atualmente 600 profissionais brasileiros atuam no país.
O presidente da seção sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço alerta para um problema de “pressão no nosso sistema” que pode dificultar a entrada de médicos portugueses no sistema de saúde do país. “É que já não temos onde colocar os nossos próprios médicos”.
De acordo com a reportagem, com a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, e o início da crise política e econômica, muitos médicos brasileiros tentaram certificar diplomas nas faculdades portuguesas. Uma forma de plano B. Os médicos brasileiros precisam fazer provas nas faculdades de Portugal para ter seus diplomas reconhecidos no país.
A diferença em termos de remuneração é outra dificuldade que os brasileiros enfrentam, eles acabam tendo que começar suas vidas do zero no novo país.
A reportagem aponta que as diferenças salariais são gritantes. Se no Brasil, um médico pode ganhar por mês pelo menos 30 mil reais, cerca de 6700 euros, acumulando funções no privado, que, através dos seguros de saúde, se for um profissional altamente especializado pode ganhar mais de cem mil reais, algo acima de 22 mil euros.
Em Portugal, a situação é bem diferente, onde um assistente graduado sênior, que tenha um horário de 35 horas ,em dedicação exclusiva, ganha cerca de 4300 euros brutos, enquanto um interno não chega a ganhar dois mil.
Segundo Lourenço, esses médicos não vão preferencialmente para o Serviço Nacional de Saúde e são mais absorvidos por unidades privadas ou PPP. “São boa aposta, porque vêm sem família, sem amigos, dedicam-se em exclusivo ao trabalho”, considera o presidente da Ordem do Sul, que afirma ainda que muitos olham para Portugal como uma porta de entrada para depois irem para outros países europeus. Só num dos principais hospitais em parceria público-privada do país há três médicos brasileiros em vias de reforçar os serviços, “o que prova que há de facto um mercado nesta área”.
Um médico brasileiro que deseja ir para Portugal, poderá gastar cerca de 800 euros e esperar um ano, período entre a equivalência de diplomas numa universidade portuguesa, e a inscrição na Ordem dos Médicos. O processo é assim, seis meses para fazer a certificação e ter os resultados numa faculdade de Medicina, que pode custar pelo menos 600 euros. A Ordem dos Médicos tem três meses para deferir ou indeferir os pedidos de inscrição, 210 euros de joia de inscrição; mais dois meses para decidir sobre a autorização de autonomia clínica. Já a revalidação da especialidade não tem um prazo. As faculdades têm tentado criar planos comuns para uniformizar as provas de revalidação de diplomas. Neste ano a janela para inscrição nestes exames deverá ser no último trimestre. / DP