O deputado federal Túlio Gadêlha (Rede-PE) acionou a Polícia Legislativa Federal e a presidência da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11/9) após receber uma série de ameaças —a maioria delas, contra a sua integridade física. O parlamentar requer que seja concedida escolta armada para protegê-lo.
Gadêlha se tornou alvo de ataques após discursar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa contra o projeto de lei que trata da anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro. A sessão era acompanhada por bolsonaristas e por familiares de pessoas presas por causa do episódio.
O deputado disse lamentar que os envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes tenham sido usados por terceiros e que agora suas famílias sofram as consequências. “Eu fico com o coração partido quando olho essas senhoras, quando vejo aqui placas [dizendo] ‘liberdade ao meu esposo Jorginho'”, afirmou.
“Essas pessoas que estavam lá foram presas por tentativa de golpe de Estado. Agora, esses deputados que estão aqui estimularam [os ataques]”, acrescentou, sendo interrompido por gritos de Edjane Duarte, viúva Cleriston Pereira da Cunha, réu do 8 de janeiro que morreu no Complexo Penitenciário da Papuda.
“A culpa é desses colegas que estimulam, minha querida”, rebateu Túlio, ainda sob protestos da viúva e de outros colegas de Câmara.
Vídeos do bate-boca ocorrido nesta quarta foram replicados nas redes sociais por parlamentares e por perfis bolsonaristas, e uma série de mensagens com ameaças começaram a ser enviadas para o WhatsApp funcional e para o email do gabinete do deputado da pernambucano.
“Contrata segurança que o pau vai torar”, “gastaria meu réu primário com muito orgulho e te mandava para o colo do capeta”, “tu merece umas porradas nessa cara de veado”, “tua hora vai chegar'”, “você deveria levar um pau e ser quebrado no meio da rua. Quem sabe isso acontece”, dizem alguns dos textos.
O parlamentar afirma que essa é a primeira vez em que faz um pedido por segurança e que a gravidade das ameaças são inéditas para ele. Túlio ainda diz estar se sentindo inseguro.
“A gente não dispõe de nenhuma proteção, e as pessoas estão muito à flor da pele quando se discute política e polarização”, afirma o deputado à coluna. “Existe um sentimento de insegurança, mas também o sentimento que a gente precisa combater a desinformação”, completa.
O parlamentar diz que não faria nenhum reparo ao seu discurso na CCJ e que as ameaças que tem recebido reforçam a importância de que as pessoas tenham mais consciência política —para ele, lideranças da extrema direita são vistas como “grandes líderes espirituais” por uma parcela de seguidores.
“O que eu acho de mais absurdo e covarde é ver que esses caras manipulam essas famílias. Eles são os grandes culpados pelo que aconteceu, mas não são eles que pagam esse preço”, diz o parlamentar.
“A extrema direita tem utilizado essas mulheres e essas famílias politicamente para jogá-las contra outros parlamentares. Como se nós fôssemos responsáveis pela prisão desses que atentaram contra a democracia”, segue.
“Essas pessoas que chegam aqui, chegam completamente desinformadas, alheias ao que está acontecendo na política, ao que as leis determinam, e acreditam que tudo isso é perseguição política. Isso é muito triste”, completa.
Túlio ainda afirma que é preciso discutir com profundidade o papel de plataformas digitais em democracias e no Brasil. “Esse ambiente não pode se perpetuar como ambiente de desinformação, de ódio, de ataque a reputações.”
As ameaças foram registradas em boletim de ocorrência junto ao Departamento de Polícia Legislativa Federal.
Ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado requereu “veemente investigação, apuração e incriminação de todos aqueles que estiverem desferindo quaisquer ameaças contra mim e meus familiares”./Folha SP
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