A defesa de Francisco Aurélio Rodrigues de Lima fez um pedido de avaliação da saúde mental dele, que foi preso suspeito de balear e decapitar um funcionário do Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF). O zelador Francisco Mizael Souza da Silva foi morto no hospital, no Centro de Fortaleza, no dia 23 de abril deste ano.
A avaliação deve ocorrer após a audiência de instrução do caso, prevista para o próximo dia 7 de julho, conforme a defesa. Francisco Aurélio tem 41 anos e trabalhou como copeiro no mesmo hospital, mas atualmente trabalhava como motorista de aplicativo, conforme o Tribunal de Justiça do Ceará. Ele foi encontrado e preso no distrito de Patacas, em Aquiraz, no mesmo dia do crime.
O suspeito tem antecedentes por desacato e um processo de medida protetiva contra ele. A motivação seria porque o autor do crime tinha ciúmes da própria mulher com a vítima. Aurélio teve a prisão preventiva decretada em abril, após audiência de custódia.
A defesa de Aurélio é feita pelas advogadas Jéssica Rodrigues e Ariel Amorim. Em entrevista Rodrigues informou que a defesa acompanha as etapas da investigação policial. A advogada disse também que Aurélio pretendia colaborar com o trabalho investigativo, e que ele tinha intenção de se entregar aos policiais antes de ser preso.
“Nós negociamos com a polícia para que acontecesse tudo [da prisão] dentro das formalidades legais, sem nenhum excesso tipo de nenhuma das partes. Ele tem interesse de colaborar com a Justiça”, complementou a advogada.
Vítima decapitada na cozinha do IJF
Conforme o auto de prisão em flagrante, o suspeito executou o crime com arma de fogo e, em seguida, decapitou a vítima na cozinha do estabelecimento. O TJCE informou que a mulher disse, durante depoimento, que mantinha relacionamento com Francisco Aurélio há cerca de um ano e meio e que ele sentia ciúmes dela com a vítima e com outros funcionários do IJF. Ela falou ainda que era colega de trabalho de Francisco Mizael, mas que não possuía amizade próxima com o zelador.
Mizael foi sepultado em Pacatuba, na região metropolitana de Fortaleza. Ele deixou uma filha de seis anos e a esposa grávida. Ele era funcionário do IJF há dez anos.
O TJCE informou que foi instaurado inquérito policial. Na fundamentação da decisão, a juíza Carla Susiany Alves de Moura, que presidiu a audiência, destacou que o crime não se trata de um ato isolado na vida do autuado, pois há registros de procedimentos criminais em seu desfavor, sendo um por desacato, em andamento na Vara de Aracoiaba, interior do Ceará, e o outro de medidas protetivas de urgência, já arquivado.
Família não sabia sobre ameaças
Francisca Escóssia, irmã de Mizael, afirmou que a família desconhecia qualquer tipo de ameaça contra ele.
“A gente nunca soube que ele estava recebendo ameaças. Meu irmão não tinha problemas com ninguém e era muito alegre. Gostava de brincar com todo mundo. Se essa pessoa que era o pivô da situação teve algo com ele, foi em relacionamento de amizade e não passava disso. Se houve alguma coisa foi negligência do próprio estabelecimento que ele trabalhava”, afirmou.
Francisca Escóssia ainda reforçou que não recebeu nenhuma ajuda tanto da prefeitura de Fortaleza, que é gestora do hospital Instituto Dr. José Frota, onde o crime aconteceu, como também do Governo do Ceará.
“Para minha família não estão dando nenhum apoio. Minha família está aqui. Eu estou tentando buscar através de vocês Justiça. Ninguém veio até nós. Disseram só que a polícia está resolvendo e que devemos esperar. Dei meu número de telefone e contato e não recebemos nenhuma ligação e orientação”, disse.
“A gente não vai deixar pra lá, a gente vai procurar a Justiça e os órgãos competentes para nos trazerem essa resposta e, principalmente, justiça pelo meu irmão, que deixou a mulher grávida e uma criança de seis anos”, completou Francisca, que trabalha como secretária escolar.
A direção do hospital informou nesta quarta-feira (24) que, minutos após o crime, parentes dos funcionários terceirizados foram acolhidos pelas equipes de assistência do hospital e também pelos membros da gestão da unidade no decorrer do dia. Informam também que prestam atendimento psicológico aos demais funcionários abalados com a situação.
Morte dentro de refeitório
O corpo da vítima, que trabalhava no setor de alimentação do hospital, ficou caído no refeitório da unidade. Outra pessoa também ficou ferida. “O sentimento é de indignação. Ele estava trabalhando, não estava fazendo nada de errado. Ele trabalhava aqui faz 10 anos. A gente fica ainda com muitas perguntas”, declarou Francisca.
Ela disse ainda que a família descobriu sobre o crime através das redes sociais. “Uma pessoa ligada à empresa mandou o vídeo da situação em que meu irmão se encontrava, e disse o que realmente tinha acontecido”, disse.
“Imediatamente, a gente não quis acreditar, mas pedi para meu esposo, que trabalha aqui do lado, para vir aqui e saber realmente o que tinha acontecido. Foi a pior cena que você possa imaginar”, lamentou a secretária.
Prisão do suspeito
Francisco Aurélio, principal suspeito do crime, foi preso poucas horas após o crime. Ele foi encontrado na cidade de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza.
O anúncio da prisão foi feito pelo governador Elmano de Freitas nas suas redes sociais. Conforme Elmano, o suspeito foi localizado no distrito de Patacas, a cerca de 9 quilômetros do centro de Aquiraz. Com o homem foi apreendida uma motocicleta. “Agora responderá na Justiça pelo bárbaro crime que cometeu”, afirmou o governador.
Segundo o ex-secretário de Segurança Pública do Ceará, Samuel Elânio, o suspeito do crime entrou no hospital para matar o funcionário porque tinha ciúmes da esposa com ele. “Um dos funcionários, que foi a vítima, estaria se insinuando para a companheira do autor do crime, motivo pelo qual ele já tinha anunciado algumas vezes que ia praticar um ato desse tipo”, explicou Elânio.
Suspeito é ex-funcionário do hospital
O suspeito do crime já havia trabalhado no IJF e entrou lá usando o reconhecimento facial, mesmo tendo sido demitido há mais de um ano. Ele levava uma mochila na qual carregava a arma de fogo usada para matar a vítima.
De acordo com Elânio, a vítima foi atingida por quatro disparos, e depois foi decapitada. Imagens que circulam em grupos mostram a vítima fardada, caída no refeitório, com a cabeça ao lado. Também é possível ver uma faca próximo ao corpo. Um outro funcionário foi baleado e levado ao centro cirúrgico.
O IJF, onde o crime ocorreu, é uma das principais unidades de saúde de Fortaleza, referência no atendimento às vítimas de traumas de alta complexidade, lesões vasculares graves e queimaduras. O hospital é gerido pela Prefeitura municipal.
Conforme testemunhas que estavam no hospital, foram ouvidos vários disparos e houve correria dentro da unidade. Além do funcionário morto, outra pessoa foi baleada e levada ao centro cirúrgico. Após o crime, o suspeito fugiu. Ele deixou a mochila com a arma de fogo no hospital.
A Direção do hospital informou que dois prestadores de serviços do setor de alimentação foram vítimas de agressão na área de recebimento de cargas do hospital. Um dos homens foi a óbito no local e o outro foi socorrido pelas equipes da Emergência./g1
(Foto reprodução)