Acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter recebido pelo menos US$ 5 milhões em propina do esquema de corrupção na Petrobrás, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai alegar em sua defesa no Conselho de Ética da Casa que desconhecia a origem do depósito de 1,3 milhão de francos suíços feitos em 2011 em um fundo do deputado na Suíça e que todo o dinheiro que tem fora do País é fruto de venda de carne enlatada para a África e de operações no mercado financeiro.
Em depoimento à Polícia Federal, Henriques disse que enviou o dinheiro a pedido do economista Felipe Diniz, filho do deputado, e que não sabia quem era o beneficiário.
Em 2007, primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Cunha e Diniz eram muito amigos e integravam o núcleo duro do PMDB na Câmara. Nesse período, Diniz teria pedido muito dinheiro em negócios fora do País e por isso pediu ajuda. Cunha fez então um empréstimo de US$ 1,5 milhão para o colega. A dívida teria, segundo os relatos, “morrido junto com Diniz”.
‘Mascate’ – A principal linha de defesa de Cunha será sustentar que ele nunca recebeu dinheiro público. O deputado reconhecerá, entretanto, que não declarou todos os seus recursos. A estratégia de sua defesa consistirá em afirmar que todo o recurso no exterior é fruto de atividade de comércio exterior e operações financeiras feitas na década de 1980.
Antes de entrar na vida pública, no começo dos anos 1990, quando assumiu o comando da Telerj, Cunha descobriu um filão de mercado: a venda de carne processada e enlatada em consignação para países africanos. Como o negócio cresceu, ele decidiu, segundo sua defesa, abrir uma conta fora do Brasil.
Além da atividade de “mascate”, o deputado afirma que amealhou a parte maior do seu patrimônio no mercado de capitais com “operações de inteligência” e que sempre teve “mão boa” para negociar ativos.
Para escapar da cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por falta de decoro parlamentar por ter supostamente mentido durante depoimento na CPI da Petrobrás em março, quando afirmou que não tinha recursos depositados naquele país ou em algum paraíso fiscal, o presidente da Câmara afirmará que possui dois trustes, e não contas correntes na Suíça.
O truste consiste na entrega de um bem ou um valor a uma instituição (fiduciário) para que seja administrado em favor do depositante ou de outra pessoa por ele indicada (beneficiário). Essas estruturas são utilizadas para proteger o patrimônio de seus beneficiários.
O deputado abriu dois fundos dessa modalidade. Um deles, conforme os relatos do deputado, foi montado em 2008. Segundo Cunha, eles permaneceram parados de 2008 até 2014, com US$ 200 ou US$ 1.000 dólares. O outro fundo era usado para as despesas da família, segundo ele.
O deputado tem afirmado que não ocorreram depósitos de dinheiro, apenas saídas e rendimentos de aplicações.
Benin – O deputado nega que os recursos atribuídos a ele tenham circulado por ao menos 23 contas bancárias em quatro países como forma de ocultar a origem, conforme indica a investigação feita pelo Ministério Público da Suíça.
Segundo o órgão do país europeu, os ativos transitaram por bancos em Cingapura, Suíça, Estados Unidos e Benin. Em depoimento à Justiça, Henriques afirmou que o depósito que fez a pedido do filho de Diniz na conta de Cunha era fruto de propina envolvendo um negócio da Petrobrás no Benin.
O presidente da Câmara dos Deputados também nega que seus familiares tenham gastado US$ 59,7 mil com cursos de tênis em uma academia dos Estados Unidos. Segundo os relatos dele, o dinheiro teria, na verdade, sido usado para pagar a escola e o alojamento de um dos seus filhos naquele país.