Concurso público. Um modelo de seleção colocado em xeque

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A cena acontece frequentemente aos domingos em todo o País: candidatos enfileirados na calçada de universidades, aguardando a abertura do portão. A estabilidade financeira e profissional seduziu no passado e continua atraindo milhares de pessoas, ano após ano, para os concursos públicos. O modelo de estudo, avaliação e admissão dos certames, entretanto, é alvo de críticas.

 

Uma publicação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito-Rio e da Universidade Federal Fluminense (UFF) aponta falhas no modelo de seleção de servidores. Os pesquisadores argumentam, na publicação de 2013, que as seleções perderam a motivação para a qual foram instituídas: escolher os profissionais mais qualificados para ocupar cargos na máquina pública.

Fernando Fontainha, coordenador da pesquisa, diz que falta efetiva avaliação das competências. “É alarmante a quantidade de cargos públicos nos quais você pode chegar só por uma prova de múltipla escolha. Isso é absolutamente questionável”, salienta Fernando – hoje docente do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na opinião do professor, os conhecimentos cobrados nos certames estão dissociados do sistema básico de ensino e, também, das habilidades exigidas pelas carreiras.

Críticas

César Nildo Farias, diretor do Curso Referencial, reconhece a existência de uma crítica aos modelos utilizados atualmente para selecionar servidores, mas discorda que os assuntos exigidos nas provas estejam totalmente desligados do mundo do trabalho. “A maioria dos certames é para cargos de nível médio, então, eles cobram esses conhecimentos. E quando os candidatos chegam nas instituições há treinamento prático para exercer as funções”, argumenta.

Maria Thereza Sombra, diretora-executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), diverge abertamente das ideias apresentadas pelos pesquisadores no livro. “O concurso público é a ferramenta mais razoável e honesta que existe neste País. É o caminho para acabar, de uma vez por todas, com o apadrinhamento político”, pontua. Ela reforça que a busca por estabilidade ainda é mola propulsora para muitos candidatos. E, como o índice de desemprego sofreu elevações nos últimos meses, os profissionais voltaram o olhar (ainda mais) para o serviço público.

 

Essas motivações, acredita Thereza, casam com a necessidade dos órgãos governamentais – que têm número elevado de funcionários terceirizados ou executam as tarefas com déficit nos quadros. “Não havendo concursos, a máquina pública irá emperrar”, frisa.

 

Projeto que atrai

Com o crescimento da taxa de desemprego – relatam professores e gestores de cursos preparatórios –, a estabilidade garantida no serviço público se tornou um chamariz mais forte para os candidatos. “Tanto pelo salário como pela estabilidade. Principalmente neste momento, pois está sendo noticiada uma ‘crise’ financeira e nos empregos. O concurso virou um porto seguro”, pontua Thiago Pacífico, coordenador do Curso Prime. O preparatório, administrado por um coletivo de docentes, chegou ao mercado de Fortaleza há quatro meses. “Nós tivemos um número de matrículas assustador”, afirma Thiago.

(O Povo )

 

 

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