Cid coloca dedo na ferida dos deputados, deixa Ministério da Educação e ainda dá sermão do alto da tribuna da Câmara

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Num cenário de guerra mortal entre PT e PSDB, não pode ser descartado o surgimento de uma surpresa política. Depois do confronto na Câmara dos Deputados, o ex-ministro Cid Gomes (Educação) e o irmão Ciro Gomes (Pros-CE) podem se dedicar a um projeto político e eleitoral sem que estejam aprisionados à crise do governo Dilma.

Para uma fatia expressiva da opinião pública, as avaliações apimentadas de Cid e Ciro sobre a política brasileira podem ter apelo. Não é improvável que Ciro Gomes, que também já governou o Ceará como Cid e que já foi ministro nos governos Itamar e Lula, possa tentar novamente uma candidatura presidencial em 2018. O próprio Cid também poderia ser candidato.

Do ponto de vista da imagem pública, Cid sai engrandecido do episódio. Eduardo Cunha sai arranhado publicamente, mas ganha do ponto de vista político, pois conseguiu a demissão de um ministro. Já a Câmara perde, porque ouviu um sermão dado da tribuna.

Cid Gomes foi o maior vencedor do episódio de ontem. Eduardo Cunha é um dos políticos mais poderosos do país. Cid o enfrentou de peito aberto no dia em que o Datafolha mostrou que não apenas a popularidade da presidente Dilma havia despencado, mas também que a imagem do Congresso estava no chão. Apenas 9% dos entrevistados pelo Datafolha consideram o desempenho dos deputados e senadores ótimo ou bom. É um resultado pior do que os 13% de ótimo ou bom do governo Dilma. E 50% avaliam como ruim ou péssimo o trabalho do Congresso.

Portanto, o ex-ministro da Educação colocou o dedo na ferida. A declaração dele que produziu esse confronto com a Câmara foi a seguinte: “Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados, que quanto pior, melhor para eles. (…) Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”.

A palavra achaque foi usada no contexto clássico do “é dando que se recebe” praticado no Congresso. No dicionário Houaiss, achaque significa molestar, acusar, mas também roubar alguém sob ameaça ou extorquir dinheiro de uma pessoa. No entanto, na forma usada por Cid, é difícil discordar de que ela retrata o que acontece na relação entre um Executivo fraco e um Legislativo forte.

Cid Gomes e o irmão Ciro Gomes são críticos do PMDB e avaliaram que não valia a pena continuar num governo cada vez mais dominado por peemedebistas. Sem uma retratação, que nunca quis fazer, Cid sabia que Dilma não teria outra saída. Por isso, já chegou no Palácio do Planalto pedindo demissão.

O episódio ilustra como a presidente Dilma Rousseff se isolou politicamente e passou a depender do PMDB. Para o governo, o principal efeito deverá ser uma reforma ministerial na qual os peemedebistas sairão fortalecidos.

A presidente sempre precisou do PMDB para governar. Era algo que estava claro desde o final da campanha eleitoral do ano passado, quando ela teve dificuldade para se reeleger. Nenhum presidente gosta de ficar dependente demais de um partido. E Dilma cometeu um erro de avaliação: achou que poderia enfraquecer o PMDB.

Ela já estava fraca demais para fazer essa manobra e, mesmo assim, cometeu o erro de enfrentar o partido. A nomeação de Cid Gomes para o Ministério da Educação fazia parte de um plano para fortalecer o Pros a ponto de criar novas forças que pudessem fazer um contraponto ao PMDB na base de apoio do governo no Congresso.

A indicação de Gilberto Kassab para a pasta das Cidades tinha o mesmo objetivo. Com Kassab no PSD e Cid no Pros, Dilma imaginou que poderia enfrentar o PMDB. Teve uma derrota retumbante. A estratégia se mostrou irrealista.

Ontem, Dilma teve de ver o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, anunciar a demissão de um ministro de Estado. No presidencialismo, isso simboliza como a presidente perdeu poder devido aos seus próprios equívocos.

Postado por: Daniela Martins

 Fonte: Blog do Kenedy
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