O Ceará tem 65% de chance de ter a quadra chuvosa abaixo da média histórica em 2016. O prognóstico, divulgado na manhã desta quarta-feira, 20, é ainda pior que o do início de 2015. A possibilidade das precipitações deste ano estarem na média considerada normal é de 25%, e a chance de o ano ser chuvoso é de apenas 10%. A análise revela uma grande chance de o Estado entrar no quinto ano consecutivo de estiagem, reforçando a gravidade do panorama da seca no Ceará.
Segundo a Funceme, um padrão de anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) indica condição de El Niño de forte intensidade no trimestre de fevereiro a abril de 2016. Além disso, contribuem para o fenômeno os padrões dos ventos em baixo níveis, da precipitação em várias áreas do globo e da circulação geral da atmosfera.
Neste mês, as condições atmosféricas facilitaram a ocorrência de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), fenômeno típico da pré-estação chuvosa, e trouxeram chuvas para o Ceará. A Funceme aponta que essas características podem vir a persistir até meados de fevereiro, notadamente, na sua primeira quinzena, podendo ocasionar outros eventos de precipitação.
Apenas o açude Caldeirões, em Saboeiro, está sangrando, enquanto que outros 136 açudes cearenses estão com volume inferior a 30%. Nenhum açude cearense apresenta volume superior a 90%, aponta a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (Cogerh-CE).
Uma atualização do prognóstico climático será divulgada em fevereiro de 2016 para o trimesre março, abril e maio.
Estiagem mais longa
A permanência da seca pode trazer a estiagem mais longa do Estado em 32 anos. O último período com cinco anos de chuvas abaixo da média histórica foi entre 1979 e 1983. No ano de 1982, o fenômeno El Niño também provocou um aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, dificultando a formação de nuvens de chuva no Ceará. Após atingir o pico máximo, o declínio do fenômeno foi lento naquele ano e estendeu a estiagem até 1983.
A tendência é que o mesmo aconteça agora. O pico do El Niño foi registrado em dezembro de 2015, e não se sabe como ele vai se comportar em 2016. Conforme o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, o processo de resfriamento de um grande reservatório, como o Oceano Pacífico, é naturalmente lento.
Mas houve um ano em que o El Niño recuou rapidamente: em 1972. Mesmo que se repita um rápido resfriamento do Pacífico, a Funceme continua apontando as chuvas abaixo da média como categoria mais provável.
“Diante do quadro que nós temos de reservas hídricas do Estado, não podemos deixar de colocar essa preocupação bem clara para que o Governo faça sua mobilização”, afirmou o presidente Eduardo Sávio nesta manhã durante entrevista coletiva.
No evento de divulgação do prognóstico da Funceme, o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, destacou as ações do Governo do Estado para conviver com a estiagem. Das obras iniciadas em 2015, a pasta está prestes a fechar um primeiro ciclo com 200 quilômetros de adutoras de montagem rápida. As estruturas servem para transferir águas para cidades em risco de colapso hídrico. Um exemplo é Quixeramobim, que deve ter adutora inaugurada antes do Carnaval, conforme o secretário.
Dentre os esforços a serem continuados, estão a perfuração e instalação de poços, operações carro-pipa e novas simulações para atender os municípios com adutoras. O planejamento das adutoras pode mudar à medida que as chuvas de 2016 tragam garantia hídrica aos locais mais castigados pela seca. Na pré-estação, as cidades de Tauá e Arneiroz, por exemplo, já tiveram bom aporte nos reservatórios, segundo classificou.
(Agência Brasil)