O Direito Penal brasileiro é ineficiente e não consegue atingir aqueles que ganham mais de cinco salários mínimos. Isso fez com que tivéssemos um “país de ricos delinquentes”, onde a corrupção é o modo natural de se fazer política e negócios no país. Essa é a opinião do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
Em palestra na PUC-Rio, na capital fluminense, Barroso afirmou não acreditar que seja possível mudar o mundo com mais Direito Penal e repressão. A seu ver, isso é feito por meio de educação e distribuição de renda. Contudo, um sistema criminal como o brasileiro não exerce sua função preventiva, porque nenhum rico é punido, apontou. E isso, segundo ele, precisa mudar.
“Ninguém quer um Estado policial. Queremos que seja preservado o devido processo legal e o direito de defesa. Mas queremos um Estado onde as pessoas sejam devidamente punidas. Um Estado que puna os empresários que fraudem licitações, os operadores do mercado financeiro que lucrem com insider trading, os gestores de fundos de pensão que desviem recursos. Isso não é Estado policial, é Estado de Justiça.”
De acordo com Barroso, “é preciso enfrentar o equívoco tropicalista que acha que corrupção ruim é a dos outros”. “Não existe corrupção do bem”, avaliou, declarando que a sociedade brasileira precisa enfrentar o sistema atual, onde os que praticam crimes contra a administração pública “frequentam os mesmos banquetes” e se protegem mutuamente.
Uma das formas de mudar esse cenário, conforme o integrante do STF, é reduzir drasticamente o rol de autoridades com foro por prerrogativa de função. Para ele, o ideal seria manter no Supremo apenas as investigações e ações contra os chefes dos Poderes e os magistrados da corte. Assim, parlamentares e ministros seriam julgados por duas varas federais, uma penal e uma para casos de improbidade administrativa, que seriam criadas em Brasília. E os juízes desses órgãos teriam mandato fixo.
Sem as ações penais, o STF poderia se concentrar em seu papel fundamental: definir teses jurídicas, analisou Luís Roberto Barroso. A credibilidade do tribunal, abalada pela demora em julgar processos contra autoridades, seria restaurada. Ao mesmo tempo, tais casos correriam de maneira mais célere. E sem os efeitos negativos de tramitarem na Justiça estadual — a proteção ou perseguição dos políticos conforme a luta local pelo poder. Além disso, como os casos seriam analisados pelos mesmos juízes, ponderou, haveria uma uniformidade das decisões, aumentando a segurança jurídica.
Mas isso não basta. Na visão de Barroso, é necessário promover uma profunda reforma político-eleitoral-partidária para que os ocupantes de cargos públicos sirvam à sociedade, e não a interesses privados. Em sua opinião, o Brasil deveria adotar um sistema semipresidencialista, com voto distrital misto para o Legislativo (fora o Senado).
(NBO)