ASSIM CAMINHA NOVA RUSSAS II: A SECA DO 15. POR REGINALDO SILVA

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Em 1915 o mundo vivenciava a Primeira Guerra Mundial. O  conflito envolvia as grandes nações, este fato desestruturou a economia mundial e consequentemente prejudicou a exportação do café brasileiro, nosso principal produto agrícola. Predominava a política do Café com Leite e o mineiro Wenceslau Bráz estava no comando da presidência da República.

No ano de 1915, Nova Russas já era uma vila avançada, caminhávamos para nossa emancipação política, havíamos inaugurado recentemente a estrada de ferro, que traria prosperidade econômica. Mas, no meio do caminho, veio a grande estiagem.

Os nordestinos já vinham enfrentando graves problemas. Os movimentos messiânicos vinham sendo brutalmente combatidos pelas forças do governo e os miseráveis continuavam vagando, com fome, com medo, sem esperança e sustentados apenas pela fé.

A situação já não era muito boa e o quadro ficou ainda pior. No Ceará, havia sido eleito para Governador em 1914  Benjamim Barroso e Padre Cícero como vice. A estiagem foi tão avassaladora que os registros da época apontam que sertanejos de várias regiões do Estado tornaram-se verdadeiros cadáveres ambulantes, andando pelas estradas do interior rumo a capital. Os que conseguiam sobreviver foram destinados ao campo de concentração do alagadiço, outros migraram para o sul do país e a maioria para a Amazônia. Com a produção inteiramente destruída,  aos poucos os moradores  deixavam seus casebres e suas terras. O caminho da capital era a única opção para a sobrevivência.

Os retirantes de Nova Russas e muitas outras cidades do interior ficaram sem alternativas, a não ser abandonar a terra natal. Na capital cearense, muitos ficavam perplexos pelo grande número de retirantes que ali chegavam diariamente, famintos, abandonados pela própria sorte, mortos ainda em vida, apenas lutando pela própria sobrevivência.

Muitos ficaram no meio do caminho, outros mais  afortunados, quando não eram embarcados para os seringais da Amazônia, permaneceram na capital construindo a Estrada de Ferro de Baturité e o calçamento das ruas centrais de fortaleza. 

A Seca do Quinze, retratada em detalhes pela escritora Raquel de Queiroz,  não entrou para história somente pela escassez das chuvas , mas principalmente pelas imagens inesquecíveis que registraram aquela triste página da nossa história.

cadáveres empilhados jogados em valas comuns, davam ao Campo de concentração um ar  macabro. Até mesmo o experiente farmacêutico Rodolfo Teófilo ficava assustado com tanta sujeira e morte. Ele havia instalado no Campo, embaixo de um cajueiro um posto de vacinação contra a varíola. A Seca deixou cenas e sequelas horríveis na memória de quem sentiu na pele a tragédia da seca de 1915.

Nova Russas, cem anos depois foi novamente castigada por  um longo período de estiagem, levando seus filhos a passarem por grandes necessidades. Os tempos mudaram, é verdade, mas precisamos concentrar mais esforços  em políticas de controle e combate a estiagem. Mais açudes e reservatórios que assegurem o abastecimento de água da população. Conhecendo a nossa história, é possível cobrar políticas voltadas para os menos favorecidos e evitar que esse mal volte a assolar o nosso povo.

A natureza é boa e próspera, cabe ao homem  e aos nossos governantes, explorá-la para o nosso benefício e não para o nosso infortúnio.

 

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