Seis dos 13 candidatos à Presidência da República nas eleições 2018 colocaram os pés nas ruas no primeiro dia oficial de campanha eleitoral. A maioria dos postulantes ao Planalto escolheu divulgar jingles, vídeos e materiais por meio das redes sociais nesta quinta-feira, 16. Para analistas, a “invisibilidade” dos presidenciáveis no mundo real marca o atual processo eleitoral.
,Ciro Gomes (PDT) Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos(PSOL), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL) foram os únicos que fizeram agenda pública, longe de ambientes controlados. Para o cientista político Humberto Dantas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a “timidez” desse início de campanha se deve a dois fatores: falta de dinheiro e medo de exposição negativa.
“Mobilizar é caro. Carro, bandeira, balão e camiseta custam muito dinheiro. As campanhas estão sem recursos para bancar ações grandiosas”. Dantas também pondera que os candidatos estão receosos em chamar atos públicos. “Esses atos acabam evidenciando um esvaziamento das próprias campanhas. Os políticos não querem deixar isso escancarado.”
Para o analista, os candidatos estão focando na participação de sabatinas – em ambientes controlados. “Tem uma armadilha aí. Quem vai a esse tipo de sabatina são sempre as mesmas pessoas. Os mesmos empresários, os mesmos representantes do terceiro setor, blogueiros e jornalistas. Essas sabatinas não resultam em votos”, completou.
O também cientista político Malcom Camargo, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), afirma que essa será a eleição da “invisibilidade”. “A invisibilidade está sendo gerada pelas próprias regras que restringem o espaço de comunicação dessas campanhas com a sociedade. As campanhas permanecerão distantes das ruas e invisíveis durante todo o processo.”
Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a “memória da lava jato” deve afastar o político das ruas. “Os eventos de rua, o contato físico entre candidato e eleitor, têm uma força simbólica muito importante. Mas, por conta da pressão da Lava Jato, devem acontecer apenas de forma muito controlada”.
Prando acredita que os candidatos devem focar muitos esforços em suas redes sociais e Whatsapp. “São ambientes controlados e protegidos. Já tem candidato sendo dirigido por marqueteiro para repetir frases de efeito, para lacrar, durante debates e entrevistas, só para esse material ser reproduzido e compartilhado pela militância na internet”, completou.
O candidato Ciro Gomes (PDT) foi um dos poucos com agenda de rua nessa quinta-feira, 16. Ele começou sua campanha em Irajá, bairro da zona norte do Rio. Ciro discursou em uma pequena quadra poliesportiva na praça Ferreira Souto, ao lado do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi de sua mulher, Giselle Bezerra, e do candidato ao governo do Rio, Pedro Fernandes.
No evento, Ciro disse que a revolta do brasileiro com a política não pode ser baseada em ódio. “Quem quiser esculhambar pode ficar à vontade até porque razão não falta. Mas tomar decisão de cabeça quente nunca foi bom conselheiro. Vamos evitar transformar a nossa revolta em algo que precipite o nosso Brasil em inexperiência, extremismo e radicalismo”, disse.
A primeira agenda oficial de Marina Silva (Rede) foi no Ambulatório Médico Voluntário de Cangaíba, na Zona Leste de São Paulo. Já o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, realizou um ato na Praça da Sé, no centro de São Paulo. Quem também caminhou pelo centro de São Paulo com militantes foi o candidato do PPL, João Goulart Filho, e o candidato da Democracia Cristã, José Maria Eymael. Vera Lucia (PSTU) participou de panfletagem de rua.
Geraldo Alckimin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (podendo), João Amoêdo (Novo) e José Maria Eymael (DC) e Cabo Daciolo (Patriota) não usaram a manhã desta quinta-feira para eventos de rua. Os candidatos usaram as suas respectivas redes sociais para marcar o início da campanha, com lançamento de vídeos, jingles e outros materiais de campanha.
O ex-prefeito Fernando Haddad candidato a vice na chapa do PT, participou de um debate promovido pelo movimento Todos Pela Educação. Ele começa a campanha na sexta-feira, 17, com uma viagem a Teresina, no Piauí. Haddad vai participar de uma atividade ao lado do governador Wellington Dias (PT), no bairro Dirceu Arcoverde, periferia da cidade. Na terça-feira, 21, Haddad retorna ao nordeste para um giro por quatro capitais. A agenda ainda não está fechada mas ele deve passar por Salvador (BA), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB). Embora o PT mantenha o discurso de que o candidato é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , condenado e preso na Operação Lava Jato, o objetivo da viagem é iniciar sua transferência de votos para Haddad na região que concentra 27% dos eleitores onde Lula lidera com folga as pesquisas.
Depois, o ex-prefeito de São Paulo deve voltar o foco para o sudeste, onde se concentram os maiores colégios eleitorais do Brasil. Ele vai participar de um grande ato ao lado de Luiz Marinho (PT) em São Paulo e tem convites para eventos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
Ainda nesta quinta-feira, a partir das 17h, em São Paulo, o movimento Mulheres do Brasil, sob o comando da empresária Luiza Trajano, irá receber os presidenciáveis para uma sabatina. / AE