Esse perfil, avalia o professor, pode representar uma dificuldade ao atual presidente e para 2022, num cenário em que opositores como Lula e Ciro Gomes também acenam a essa parcela do eleitorado. “Bolsonaro vem perdendo em geral. E também perde no segmento evangélico”. Pesquisa Ipec divulgada pelo Estadão na sexta-feira mostra Bolsonaro atrás de Lula (41% a 32%) nas intenções de voto entre evangélicos para 2022.
Ronaldo Almeida traça um perfil do eleitorado evangélico no País: “o campo evangélico é múltiplo, variado. Costuma ser visto de maneira homogênea, mas há uma diversidade interna, que vai da esquerda, um grupo pequeno, à direita e extrema-direita, que forma um grupo maior. É um pouco desigual, mas hegemônica no conservadorismo. É importante também diferenciar ainda a liderança do fiel. O que vemos na TV, os personagens conhecidos, os legisladores com discurso acentuado, acabam sendo mais conservadores do que os fiéis. A fé evangélica é mais flexível do que a moralidade defendida por essas lideranças. O discurso público sobre temas como homossexuais, por exemplo, pode ser negativo, mas o fiel é mais tolerante. Os discursos das lideranças são muito mais pesados que o fiel médio.”
Questionado sobre quem pode estar herdando esse eleitorado de Bolsonaro no meio dos evangélicos, ele diz que Lula tenta recuperar o território perdido e Ciro começa a entrar nesse território sem as questões indenitárias.
“O PT tenta refazer pontes. Lula se movimenta, se rearticula. Não significa que ele vai conquistar todo mundo. Já Ciro parece ter achado um caminho que é entrar nesta conversa sem as questões identitárias, como aborto, gênero. Ele fala de superação, quase como que na teologia da prosperidade, e fala de solidariedade, que evoca o cristianismo social. É uma aproximação sem ser contraditório ao seu partido.” Destaca o antropólogo.
(Foto: Ricardo Lima)