“Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce o novo partido”. Com essa frase, Franco Montoro dava início a um dos mais exitosos partidos políticos da Nova República, o PSDB. Os tucanos surgiam em meio ao processo constituinte como um movimento de rebeldia contra o fisiologismo e as práticas daqueles que começavam a dar cartas no PMDB.
Apesar da frase de Montoro, o PSDB se notabilizou por ser um partido de quadros, mas ainda longe do pulsar das ruas. Um grupo com ideias e propostas, entretanto, longe de ser uma liderança nos setores organizados da sociedade. Nos seus quadros passaram a habitar grandes quadros da política brasileira como o próprio Franco Montoro, mas também Mário Covas, Fernando Henrique, José Richa, Tasso Jereissati, José Serra, entre tantos outros.
Era a construção de um partido que se espelhava na esquerda europeia, nos social democratas alemães, no trabalhismo inglês, no socialismo francês e descolando-se do PMDB, este grupo poderia dar voz ao seu projeto de país. Esta mudança jogou o PMDB definitivamente nas mãos do fisiologismo, uma vez que os principais quadros que pensavam as políticas públicas acabaram pouco a pouco a se transferir para o PSDB. Os que ficaram no PMDB acabaram por se tornar seu chamado “grupo ético” que perdeu espaço e protagonismo.
PSDB e PMDB, apesar das divergências, tornaram-se sócios em diversos governos por uma razão muito simples. Partidos de corte ideológico como PSDB carecem da capacidade real de articulação e operação na criação de maiorias, habilidade inegável do PMDB. Assim, para implementar suas políticas, partidos como PSDB, de pensadores, precisam do apoio de partidos operadores, como o PMDB. Na verdade, a cisão expôs duas faces do velho PMDB que teriam que aprender a conviver quando se encontrassem no governo.
Portanto, é com esta clareza que Tasso Jereissati, um dos fundadores do partido, diz com autoridade que “esse PSDB desses caras não é o meu PSDB”, diante da recente crise instalada no ninho tucano. Tasso entende que a origem do seu partido não se confunde com práticas fisiológicas, adesismo ou clientelismo, uma vez que os tucanos sugiram na cena política para enfrentar estas práticas.
De corte eminentemente paulista, o PSDB sempre precisou ampliar suas bases. A chegada de Aécio Neves ao comando da sigla parecia o começo deste processo. Entretanto, as denúncias contra o senador mineiro ceifaram sua credibilidade interna, o que abriu um racha partidário, entre aqueles que desejam um partido fiel aos seus princípios e outros que aos poucos querem transformá-lo em um novo PMDB.
Este processo de antropofagia pode levar o partido a um desgaste enorme. A polarização com o petismo levou o tucanato a se enxergar como opção natural de poder, entretanto, isto pode desaparecer diante do impasse que se impôs. Se os tucanos desejam liderar o processo político, precisam iniciar um processo de depuração dos seus quadros e retorno aos seus princípios.