Abdullah Kurdi era o pai de Aylan, o menino sírio cuja foto nunca mais será esquecida. Abdullah perdeu Aylan, de 3 anos, o mais velho Galip, de 5, e a mulher Rehan no naufrágio de seu bote.A ideia era ir da Turquia à Grécia para depois rumar ao Canadá, onde os esperava Teema, irmã de Abdullah, que mora há 20 anos em Vancouver.Tinham pagado um traficante para levá-los à ilha grega de Kos, mas foram resgatados. “Depois nos libertaram e nós mesmos conseguimos arranjar um barco de borracha para remar até Kos.”
Outras oito pessoas se juntaram a eles. A 500 metros da costa, a embarcação começou a fazer água. “Algumas pessoas ficaram de pé e o barco acabou virando.”
Guiando-se pelas luzes, conseguiu nadar até a praia. Procurou pela família. “Pensei que tivessem se assustado e fugido. Cheguei ao nosso ponto de encontro, no porto de Bodrum, e não os encontrei. Corri para o hospital, onde me deram a notícia”, falou à agência EFE.
Foi o desfecho de uma tragédia que se desenrolava há muito tempo. Uma fuga sem fim do conflito na Síria entre Assad e o Estado Islâmico. De origem curda, eles saíram de Damasco, onde Abdullah trabalhava como barbeiro, em 2012, e se mudaram para Alepo.
Com o recrudescimento dos confrontos, foram para Kobane, onde se instalaram. No ano passado, combatentes curdos conseguiram tomar de volta algumas cidades do EI. Kobane, na fronteira com a Turquia, tornou-se símbolo de resistência contra o EI.
Desde julho, porém, o governo turco realiza ataques aéreos contra curdos e terroristas do EI. Kobane foi destruída. Pelo menos 80% dela são escombros e ruas cheias de cadáveres.
O Canadá, agora, oferece-lhe asilo. Mas Abdullah, de 35 anos, desistiu. “Depois do que aconteceu, não quero ir. Vou levá-los a Kobane. É lá que vou ficar o resto da minha vida”, disse.
“Quero que o mundo inteiro nos ouça e veja onde chegamos para tentar escapar da guerra. Vivo um grande sofrimento. Que isso não aconteça mais. Que tenha sido a última vez”.
Abdullah vai enterrar os filhos, a mulher e a si mesmo na Kobane de onde nunca conseguiu sair.
Os dois meninos sírios que se afogaram com a mãe enquanto tentavam chegar à Grécia foram enterrados na cidade síria de Kobani nesta sexta-feira, disse uma testemunha à Reuters.
Uma fotografia do corpo de uma das crianças, Aylan Kurdi, de 3 anos, na areia de uma praia, foi publicada em jornais de todo o mundo nesta semana, gerando indignação pela perceptível falta de ação das nações desenvolvidas em ajudar os refugiados.
Abdullah Kurdi, o pai, participou do funeral, em que os corpos foram enterrados lado a lado em uma “cerimônia de mártires” na cidade predominantemente curda de Kobani, também conhecida como Ayn al-Arab, perto da fronteira com a Turquia.
Falando sobre a travessia da fronteira, Kurdi disse que esperava que a morte de sua família encorajasse Estados árabes a ajudaram refugiados sírios.
“Quero que os governos árabes -não países europeus- vejam (o que aconteceu com) as minhas crianças, e por isso ajudem as pessoas”, disse em declarações a uma rádio local.
(Reportagem de Rodi Said em Kobani)
A imagem que chocou internutas do mundo inteiro. A postagem de Emanuell Coelho sintetiza o sentimento de milhões de pessoas no mundo inteiro.
Me parte o coração, me faz pensar em minha filha e nos filhos de outros. O corpo frio e abandonado do pequeno Aylan na beira da praia me faz engolir seco e os olhos lacrimejarem. Como o ser humano é cruel, como a falta de clemência e piedade atingem níveis que me assustam. Descanse em paz pequeno, encontre noutro mundo o aconchego e paz que este não soube te dar.