Tratei da Aletheia no meu trabalho de conclusão do curso de especialização em Filosofia, aprovado com média 10 pela PUC do Rio de Janeiro.
Não quero com isso dar uma espécie de carteirada, até porque o Pondé tem o título de doutor em Filosofia. Mas, no meu entendimento, ao contrário do que informa a Polícia Federal, Aletheia não é a busca pela verdade. Muito menos pela verdade que caberia à Polícia Federal ou ao Judiciário tentar encontrar.
Essa busca pressupõe a procura por evidências, que por sua vez levem a provas irrefutáveis, possíveis de serem comprovadas à luz da razão e da lógica. Assim deveria funcionar o Estado Democrático de Direito. Ou seja, de modo exatamente oposto à Aletheia.
Aletheia, dos gregos pré-socráticos à fenomenologia heideggeriana, trata da verdade como desvelamento, algo que se revela a uma presença iluminada, sem que ela necessite da razão para alcançá-la. Trata-se de uma verdade anterior à correspondência e adequação entre o discurso e o objeto ao qual se refere, anterior ao exercício da representação e da lógica.
Tenho minhas dúvidas de que os delegados da PF que batizaram essa operação algum dia estudaram sobre Aletheia. Parece mais que procuraram no tradutor automático por uma expressão exótica em outro idioma que soasse profunda o suficiente para a mídia não saber explicá-la, porém, conseguisse relacioná-la à descoberta final da verdade.
No enredo produzido coletivamente pela plutocracia, mídia hegemônica e seus tentáculos na PF e no Judiciário, Aletheia deveria ser o capítulo final, em que Dilma é derrubada e Lula é preso. Logo depois viria o clímax, em que a plutocracia retoma o poder executivo.
Esse é o final escrito já desde muito antes da chamada “estrada de provas” na Teoria do Roteiro, trajetória do herói de mil faces.
Na verdade, deve ter sido um tanto desapontador para os fãs da saga que as principais estrelas da estrada de provas a essa altura ainda sejam um apartamento de 200m² no Guarujá, uma canoa de lata e dois pedalinhos em Atibaia. Ainda mais se postos lado a lado à Paraty House, que está para a família Marinho, mais uma vez protagonista do golpe, muito mais evidente do que qualquer denúncia contra Lula ou Dilma.
A única verdade revelada até agora é que para os iluminados atores da operação jurídico-midiática, Lula e Dilma estão condenados desde sempre, independente de qual seja a acusação.
É algo que flerta com o místico, e talvez por isso o juiz herói Sérgio Moro é representado pela mídia como um messias predestinado. Segundo a Veja, “aquele que vê mais longe”. Aquele que simplesmente sabe, desde muito antes das tentativas da lógica investigativa e do discurso racional em revelarem aquilo que se oculta.
Pensando bem, não há nome melhor do que Aletheia.