A arbitragem do jogo entre Brasil e Suíça, no domingo “errou” no gol de empate do time europeu. A avaliação é de Marco Van Basten, ex-jogador e hoje diretor técnico da Fifa. Essa, porém, não é a percepção dos responsáveis pela tecnologia e nem pela arbitragem. A percepção no Comitê dos Árbitros é de que o juiz da partida agiu de forma “correta” e não houve nem falta em Miranda e nem pênalti em Gabriel Jesus.
“Tive várias discussões com pessoas dentro da Fifa sobre esse assunto nos últimos dias”, explicou. “Acho que precisamos aprender com esse caso”, defendeu. Segundo ele, os brasileiros agiram de forma correta ao se queixar em uma carta enviada para a Fifa.
Para ele, isso não vai mudar o resultado do jogo. Mas pode ajudar a Fifa a avaliar seu próprio processo. “Não acha que o juiz deveria ter dado aquele gol”, defendeu. “Essa é minha opinião pessoal”, ponderou.
As declarações de Van Basten foram feitas ao Estado no lobby do hotel Radisson, usado pela Fifa como sua sede em Moscou durante a Copa do Mundo.
Dentro da estrutura da Fifa, o ex-jogador está abaixo da secretária-geral da Fifa, Fatma Samoura, e de seu adjunto, Zvonimir Boban. Ele foi escolhido para fazer parte do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa e que vai avaliar a Copa do Mundo de 2018, no aspecto técnico e tático.
A equipe ainda conta com Carlos Alberto Parreira, Emmanuel Amunike, Bora Milutinovic, Alessandro Nesta e Andy Roxburgh.
Ao ser chamado para integrar a Fifa pelo presidente Gianni Infantino, em 2016, Van Basten assumiu o cargo de executivo chefe para Desenvolvimento Técnico. Na explicação de seu cargo, no site da Fifa, ele iria liderar debates que iriam desde “inovação tecnológica no futebol até arbitragem”. Na prática, porém, a implementação do VAR não tem passado por suas mãos.
“Marco Van Basten é futebol”, comemorou Infantino quando contratou o holandês, em 2016. “Ele não é apenas uma lenda. Mas um especialista”, completou.
Na carta, a CBF solicita uma cópia do audio das conversas entre o árbitro de campo e a cabine que se ocupa do vídeo. A entidade também quer as imagens. Ainda que não haja como objetivo rever o resultado do jogo, a CBF quer que a Fifa tenha consciência de que o sistema falhou.
A Fifa já indicou que irá responder à carta enviada pela CBF. Mas teme que, ao entregar o áudio à seleção, abrirá um precedentes perigoso, levando a uma pressão indevida sobre os árbitros.
Já os comentários do ex-jogador holandês apontam que não existe um consenso dentro da entidade sobre o tratamento do caso de Miranda. Segundo o corpo técnico que se ocupa da aplicação do VAR, os árbitros na cabine avaliaram a cena do suposto empurrão sobre Miranda, inclusive em câmara lenta. Mas chegaram à conclusão de que não houve uma falta. Por isso, não pediram que o árbitro em campo paralisasse a partida e apenas o disseram para seguir.
Um dos aspectos avaliados foi o posicionamento de Miranda, que não teria sido desequilibrado na visão dos árbitros.
Já no caso de Gabriel Jesus, o mesmo processo ocorreu. Na cabine do VAR, os árbitros reavaliaram o lance, mesmo sem que o juiz da partida soubesse. Mas optaram por não alertar o árbitro César Ramos sobre uma eventual irregularidade e indicaram que poderia seguir. Por isso, o lance também seguiu.
Fontes na Fifa ainda indicaram que usaram o “super slow replay” – uma tecnologia que permite rever a imagem num ritmo ainda mais lento – para tomar uma decisão no que se refere ao lance de Gabriel Jesus. Mas concluiu que não houve pênalti.
Na avaliação da cúpula da Fifa, o VAR não pode tirar do futebol seu caráter de contato. “Caso contrário, matamos o jogo”, afirmou um dos principais dirigentes da entidade.
Entre os membros da CBF, a percepção era de que a carta não mudará nada do resultado. Mas a entidade precisava “se pronunciar”. “Precisamos marcar posição”, disse Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF.
Feijó foi alvo de uma operação policial em meados do ano passado por conta da suspeita de recebimento de R$ 600 mil da Confederação para sua campanha eleitoral para prefeito de Boca da Mata (AL). A Polícia Federal apurou que sua campanha teria custado R$ 2 milhões. Mas Feijó apenas declarou R$ 105 mil.
Já o presidente da CBF, coronel Antônio Nunes, preferiu não se pronunciar sobre a carta e nem sobre o lance. Quando foi questionado pela imprensa internacional e brasileira sobre o assunto, apertou o passo e foi conduzido por um de seus assistentes para longe dos jornalistas./ AE