O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – talvez por conta de sua aspiração de chegar à Presidência da República -, tem deixado sua área de especialização para vir ciscar no terreiro da política, esfera tão cheia de manhas e tramas, de mumunhas e patranhas, que faz o comando do Conselho Monetário Nacional parecer brincadeira de criança.
Sem que ninguém lhe tivesse pedido a opinião, Meirelles proferiu a declaração de que o PMDB terá um candidato próprio à Presidência da República, e que esse candidato não será Geraldo Alckmin. Para Meirelles, Temer vai apoiar quem defenda por completo a atual política econômica, o que não seria o caso do governador de São Paulo.
O PSDB pode não andar bem das pernas, mas em termos de políticas econômicas dá um banho no PMDB e aliados, que só vão votar a reforma da Previdência não por sabedoria, mas para receber algumas migalhas do Tesouro Nacional. A encrenca do PSDB com o PMDB se dá mais na esfera da ética. Embora alguns peessedebistas tenham sido flagrados fazendo mal-feitos, são uns verdadeiros anjos perto de bom número de seus colegas do PMDB.
Quanto ao Meirelles, que faz tudo para se definir como o candidato do PMDB, não haverá problema na hipótese de uma vitória do PT em 2018. É só mudar de lado, mais uma vez.
Ministros da Fazenda, num país tão complicado como o Brasil, às vezes são levados a magnificar sua relevância e sabedoria e passam a se ver como seres notáveis, ungidos pelos céus, e portanto aptos a vôos de maior envergadura. Mas como está na Bíblia, muitos são os chamados, poucos os escolhidos!
Nosso primeiro Ministro da Fazenda (1891-1892 e 1894-1896) a virar Presidente foi Rodrigues Alves, que foi também por duas vezes eleito Presidente da República. Cumpriu o primeiro mandato (1902-1906), mas faleceu anes de assumir o segundo (que seria de 1918 a 1922). Foi um político experimentado, Conselheiro do Império, três vezes governador de São Paulo. Uma curiosidade: foi o último paulista a tomar posse como Presidente da República até agosto de 2016, quando assumiu Michel Temer.
O segundo ministro da Fazenda a virar Presidente foi nada mais, nada menos, do que o gaúcho Getúlio Vargas. Foi MF de Washington Luís (1926 e 1927), a quem destituiu pelo golpe de 1930, impedindo a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Getúlio assumiu a chefia do governo provisório, foi presidente constitucional e presidente-ditador.
Tancredo Neves, esse apenas esquentou a cadeira de Ministro da Fazenda por dois meses em 1962. Foi primeiro ministro no Parlamentarismo e elegeu-se presidente em 1984, mais caiu gravemente enfermo na véspera da sua posse, tendo falecido pouco depois.
Finalmente, tivemos o sociólogo e cientista político Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda (1993-1994) e depois presidente do Brasil entre 1995 e 2003. Foi ministro no governo de meu saudoso amigo, o presidente Itamar Franco, que o colocou no cargo (que consumira três ministros em apenas sete meses), com o desafio de debelar a hiperinflação, que chegara à taxa anual de 2400%. FHC trouxe gente da melhor qualidade (Persio Arida, Armínio Fraga, Pedro Malan, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Winston Fritsch, entre outros) e, juntos, começaram a arquitetar o bem-sucedido Plano Real.
Voltemos, depois desse longo parênteses sobre ministros da Fazenda que chegaram à Presidência da República ao tema deste nosso comentário de hoje, que é o ministro Henrique Meirelles. Ele é correto, é competente, mas não me parece reunir as qualidades necessárias – de liderança, autoridade, de capacidade de articulação – para o bom exercício da Suprema Magistratura do País.
Pedro Luiz Rodrigues é jornalista, com atuação em importantes veículos da imprensa brasileira, e diplomata.