Segundo a Polícia Civil, o jornalista foi vítima de uma tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte). No final da tarde desta sexta (15), um adolescente de 17 anos foi apreendido e outro rapaz, de 19 anos, foi preso sob suspeita de envolvimento no ataque.
De acordo com o delegado-adjunto da 3º DP (Cruzeiro), Douglas Fernandes, ambos confessaram o crime e disseram que estavam sob o efeito de drogas. Eles não tinham antecedentes criminais.
“Eles confessaram o crime e subtraíram R$ 250 da carteira de Gabriel, deixando R$ 20 e descartando em seguida. Também descartaram o celular com medo de ser rastreado”, afirma o delegado. “Eles não conheciam a vítima, escolheram a esmo.”
Segundo Fernandes, para chegar até os suspeitos, a polícia se valeu de imagens de câmeras da região para traçar o trajeto da dupla. A conclusão foi que eles estavam perto do imóvel onde um dos suspeitos estava hospedado, saíram para cometer o crime e depois retornaram.
Os policiais chegaram até o adolescente após ele procurar um hospital, com ferimentos de faca na perna. O suspeito chegou a ir até a delegacia para registrar o ocorrido, mas quando questionado pelos policiais se contradisse e, por fim, confessou ter tomado uma facada do próprio parceiro durante o ataque ao jornalista.
“Percebemos que poderia haver um link entre os dois casos, e a vítima apresentou contradições na história de um suposto roubo e acabou confessando que teria levado a facada do próprio comparsa”, disse o delegado.
A polícia não descarta a participação de outras pessoas no crime. A faca utilizada foi apreendida, mas não foi possível coletar impressões digitais por causa da manipulação feita pelas pessoas que encontraram o objeto.
A polícia, porém, encontrou com o menor de idade roupas rasgadas e com manchas de sangue que deverão ser analisadas.
O jornalista Gabriel Luiz foi socorrido com diversas perfurações no corpo e encaminhado em para o Hospital de Base do Distrito Federal. Chegou à unidade com quadro hemorrágico causado por corte no pescoço, uma perfuração no abdômen e um ferimento na perna esquerda.
De acordo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, responsável pelo hospital, o repórter foi submetido a intervenções cirúrgicas durante a madrugada. Após o procedimento, foi transferido para um hospital particular no Lago Sul.
Segundo boletim médico, o jornalista está na UTI, consciente e recebeu visita do pai.
De acordo com o delegado Peter Ranquetat, que também atuou na investigação do crime, ainda será feita uma oitiva com Gabriel para confirmar a linha de investigação.
“Estamos em contato com a família da vítima para saber quando isso poderá ser feito.”
Mais cedo, em nota, a TV Globo diz lamentar profundamente o ocorrido e que aguarda investigação da polícia. “A Globo lamenta profundamente o ocorrido. Está aguardando as investigações da polícia e prestando toda ajuda ao nosso repórter e aos familiares. A Globo repudia veemente todas as formas de violência e espera que o caso seja esclarecido o mais rapidamente possível.”
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou nota afirmando que vê com muita preocupação o caso e que Gabriel Luiz tem histórico de reportagens investigativas.
“É importante ressaltar dois pontos: a violência empregada contra a vítima e o local onde o crime ocorreu, uma região de baixa criminalidade”, diz.
A associação ressalta que repudia a violência cometida contra o jornalista e pede rigor por parte das autoridades do Distrito Federal na apuração do episódio, com especial atenção para a possibilidade de o crime ter ocorrido em decorrência do exercício da profissão.
A Abraji também afirma que entrou em contato com o secretário de Segurança do DF, o delegado federal Júlio Danilo Souza Ferreira, que afirmou acompanhar o caso de perto, sem descartar nenhuma hipótese até o momento. Também foi enviado ofício à secretaria cobrando a apuração diligente do caso.
Já a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) disse que “lamenta profundamente a tentativa de assassinato do repórter Gabriel Luiz”, que espera que os fatos sejam investigados com celeridade e os responsáveis sejam identificados e punidos.
“Diante da escalada da violência contra jornalistas no Brasil, é preciso uma averiguação criteriosa da motivação do crime, para que seja esclarecido se está vinculado ao exercício profissional. A Fenaj reitera seu repúdio à violência, em especial a praticada contra profissionais da imprensa, que cumprem o importante papel de levar informações verdadeiras à sociedade”, afirmou.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) disse que ainda não se sabe se o crime tem relação com a atividade profissional de Gabriel, “mas ele se insere num quadro inaceitável de hostilidade a jornalistas e de crescimento da violência no País, estimulado pelo governo federal”.
“A ABI exige que as autoridades policiais investiguem com empenho a tentativa de homicídio e a esclareçam o mais rapidamente possível”, disse Paulo Jeronimo, presidente da ABI.
O ataque ao jornalista também repercutiu entre integrantes do Judiciário e Legislativo.
O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que recebeu “com indignação a notícia do atentado, ainda inexplicado”, contra o jornalista.
“Gabriel vocaliza as reivindicações de comunidades do DF, fazendo jornalismo investigativo profundo e sério. Desejo pleno restabelecimento ao profissional.”
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que espera que o crime seja investigado e prestou solidariedade ao repórter.
“Na torcida pela sua pronta recuperação. Espero que o crime seja investigado com rigor e que os responsáveis sejam punidos”.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata ao Palácio do Planalto, disse que deseja pronta recuperação ao repórter e que o jornalismo brasileiro sofre forte repressão nos últimos tempos.
“Se torna necessária intensa investigação neste caso. Os jornalistas são fundamentais para a democracia e na luta por um Brasil melhor”, declarou./ Folha SP
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