O governo reage ao impeachment em três frentes: na opinião pública, na Justiça e na pressão política no Congresso. Há todo um esforço para massificar a versão de que se trata de uma guerra entre a vítima Dilma Rousseff e o bandido Eduardo Cunha, entrar com uma enxurrada de recursos no Supremo Tribunal Federal e tentar impor a dedo os integrantes da Comissão da Câmara que vai decidir se o processo contra Dilma vai ou não prosperar.
São três pedreiras, porque a opinião pública está irritada simultaneamente com a presidente da República e com o presidente da Câmara e acha que nessa guerra não há vítimas, só vilões. Basta ver as pesquisas. Elas indicam que uma grande maioria é favorável tanto ao impeachment de uma quanto à cassação do outro.
Independentemente de Cunha, o fato é que a recessão já evolui para depressão, a inflação é doída, os juros são gritantes e a perspectiva é de que o desemprego bata em10% em 2016, atingindo 20% dos jovens – ou seja, toda uma geração. Assim, Dilma é rejeitada por cima, pelo mercado que vê a Economia esfarelar, e por baixo, pelos cidadãos e cidadãs que veem seu emprego e renda virarem pó. Ontem mesmo, o mercado já deu, estridentemente, sua posição diante do impeachment: a Bovespa subiu e até as ações das combalidas Petrobrás e Vale enfim reagiram.
Na outra frente, a jurídica, é improvável que o Supremo tome partido a favor de Dilma ou de Eduardo Cunha e é bem provável que aprove a tese de que um presidente da Câmara (apesar de atualmente ser quem é…) tem legitimidade para acatar o pedido de impeachment. Acatá-lo não significa definir seu desfecho. A Comissão Especial da Câmara pode dizer sim, pode dizer não, e o governo só precisará de um terço dos votos no plenário (171) para evitar que Dilma seja enxotada do Planalto. Se o governo não tiver nem isso, será porque não tem mais nada de apoio político.
Em paralelo, as investigações e revelações da Lava Jato e da Zelotes vão continuar normalmente. Se o País tende a ficar paralisado com um processo de impeachment, o juiz Sérgio Moro, o Supremo, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal não vão parar.
E a terceira frente, a política, é a mais imprevisível. Os dois extremos estão bem definidos, com PT e PC do B contra o impeachment, a oposição (PSDB, PPS, DEM e Solidariedade) maciçamente a favor. Dilma vai ter de disputar com Eduardo Cunha, voto a voto, aquele bolo, ou meião, que tem lá suas razões, seus interesses e seus métodos bem particulares – e não exatamente os mais éticos do mundo. Esse meião não é de ninguém, logo pode ser de qualquer um. PP, PR, PRB, PSC, PTB são da base aliada de Dilma e da base aliada de Cunha. Como votarão na Comissão Especial do impeachment?
Além deles, há os partidos, como a Rede, o PSB e o PV, que nem se matam pelo governo e por Dilma, nem se matam por Cunha e contra Dilma. Esses tendem a analisar com mais seriedade o ambiente nacional e as condições políticas antes de tomar uma decisão pelo sim ou pelo não.
E há o PMDB… Essa “federação de partidos”, como é chamado, consegue ser, ao mesmo tempo, da base aliada de Dilma, da tropa de choque de Cunha e da sustentação de Renan Calheiros. E está com um olho nos sete ministérios do presente (com Dilma) e nos eventuais 30 ministérios do futuro (com Michel Temer).
Faz todo o sentido que, em meio a um silêncio ensurdecedor de 24 horas, o ex-presidente Lula tenha ido se meter ontem justamente no gabinete do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. Com Cunha armado até os dentes, Renan entrincheirado para se defender da Lava Jato, Temer de tocaia para o que der e vier, o jeito é recorrer aos governadores, e não apenas aos do PMDB. Eles terão muita influência, mas os dois fatores decisivos serão outros: a Economia e a opinião pública.