São Paulo – Organizar ideias num texto preciso, coeso e agradável não é privilégio dos grandes nomes da literatura.
Mesmo sem o talento de uma Clarice Lispector ou de um Guimarães Rosa, você ainda pode ser um excelente redator – nem que seja de pequenos textos do cotidiano profissional, como e-mails e relatórios.
Ter uma formação escolar sólida é fundamental para escrever bem na vida adulta, diz Rosângela Cremaschi, professora na Faap e consultora empresarial na RC7. “Não que aqueles que não tiveram um bom preparo estarão fadados ao fracasso eterno, mas o caminho será mais longo e árduo para eles”, explica.
Num país que em geral lê pouco, diz Rosângela, as dificuldades com redação são comuns entre profissionais de todas as áreas. “Muitas pessoas relatam sua frustração quando um cliente liga para dizer que não entendeu o que elas escreveram num e-mail, por exemplo”, afirma a professora.
Outra dificuldade frequente está em saber por onde e como começar o texto. Uma vez esboçadas as ideias, surgem outras preocupações, ligadas à norma padrão da língua e à melhor forma de se fazer compreender.
A boa notícia é que conquistar qualidade e fluência na comunicação escrita é apenas uma questão de tempo, paciência e muito treino.
De acordo com Diogo Arrais, professor de português no Damásio Educacional, quem escreve bem – ou se esforça para alcançar esse objetivo – costuma cultivar alguns hábitos que refletem, antes de tudo, uma ardente curiosidade pela palavra.
“Para ter uma boa redação, você precisa amar a sua língua, prestar atenção à letra das músicas, ter interesse pelas artes e pela cultura de forma geral”, explica ele.
Veja a seguir alguns hábitos típicos dos profissionais que apresentam um excelente desempenho em redação, segundo os especialistas ouvidos por EXAME.com:
1. Têm apego pelos livros
Bons escritores são grandes leitores. Mas eles não fazem isso apenas para cumprir uma obrigação: além de sentirem prazer com os livros, eles soltam sua imaginação, fazem associações mentais e formulam suas próprias interpretações sobre o texto. Quem escreve bem também costuma ser bastante seletivo com seu “cardápio” de leituras, dando preferência a autores de grande envergadura, diz o professor Arrais.
2. Mostram interesse pelas próprias dúvidas
Você pensa que as pessoas com bom texto têm uma gramática e um dicionário gravados na cabeça? Nem de longe. De acordo com a professora Rosângela, o diferencial dos bons redatores é a atenção dispensada aos seus próprios erros e confusões. “Em vez de ignorar suas dúvidas, eles procuram saná-las, o que vai aumentando cada vez mais o seu repertório”, explica.
3. Planejam o que escrevem
A palavra “texto” vem do latim “textum”, que significa “tecido” ou “entrelaçamento”. À maneira de um bordado, a redação não sairá boa se a sua estrutura não for previamente esboçada – ao menos mentalmente. “Quem escreve bem costuma fazer um rápido plano do seu texto”, diz Rosângela. “Em um primeiro momento pode parecer perda de tempo, mas isso evitará devaneios e confusões no meio da escrita”.
4. Releem o próprio texto
Outro hábito valioso é a análise paciente e atenta do que foi redigido. Colocar-se no lugar do leitor, imaginando suas dúvidas e sentimentos diante do texto, é o princípio condutor de uma boa revisão. Segundo Arrais, essa prática permite encontrar inconsistências, evitar repetições e melhorar de forma geral a experiência de leitura.
5. Buscam a simplicidade máxima
Muitas pessoas acreditam no mito de que escrever bem é escrever “difícil”: quanto mais expressões rebuscadas, palavras raras e estruturas complexas houver, maior a respeitabilidade do autor. Grande engano. No contexto do trabalho, a qualidade de um texto está no seu poder comunicativo, isto é, na sua capacidade de expressar uma ideia de forma acessível a qualquer leitor. “Quem escreve bem está sempre tentando tornar suas frases mais fáceis e diretas”, diz Rosângela.